Os produtores de feijão em Goiás ganharam um aliado tecnológico para enfrentar os desafios do clima. Um estudo inédito, realizado pela Embrapa em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), definiu as melhores datas para o plantio do feijão das águas em 28 municípios do estado. Com base em simulações computacionais avançadas, os pesquisadores descobriram que o momento exato da semeadura pode elevar ou reduzir drasticamente a produtividade, dependendo da região.
A pesquisa, que complementa o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), utilizou o modelo CSM-CROPGRO-Dry Bean – uma ferramenta desenvolvida pela Universidade da Flórida (EUA) e pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) – para analisar dados históricos de clima, solo e cultivares. O resultado? Janelas de plantio precisas que minimizam perdas por seca ou excesso de chuvas.
Quando plantar? As datas ideais por região
Em Goiás, o feijão das águas é tradicionalmente plantado entre outubro e dezembro, coincidindo com o início das chuvas. No entanto, a distribuição irregular de precipitações exige estratégias diferentes em cada localidade.
Leste de Goiás (como Formosa, Catalão e Luziânia):
- Melhor período: 20 de outubro a 10 de novembro
- Risco: Atrasos na semeadura aumentam as perdas devido à redução das chuvas no fim do ciclo.
Oeste do Estado (como Jataí, Rio Verde e Chapadão do Céu):
- Melhor período: 20 de novembro a 30 de dezembro
- Vantagem: Semear mais tarde reduz o risco de estresse hídrico na fase reprodutiva.
Segundo Silvando Carlos da Silva, pesquisador da Embrapa: “O feijoeiro é extremamente sensível à falta de água durante a floração. Se o déficit hídrico ocorre nessa fase, a planta produz menos vagens e grãos menores, impactando diretamente a produtividade.”
Como funciona o modelo computacional?
O CSM-CROPGRO-Dry Bean é um software de simulação agrícola que integra:
- Dados climáticos (chuvas, temperatura, umidade)
- Características do solo
- Genética das cultivares
- Manejo da lavoura
Com base em séries históricas, o programa prevê o desempenho da cultura em diferentes cenários, ajudando a definir estratégias de plantio mais seguras.

Segundo Alexandre Heinemann, coordenador do estudo: “Não substituímos o Zarc, mas complementamos com uma abordagem estatística inovadora, usando análise de dados funcionais para reduzir incertezas.”
Por que a data certa faz diferença
O feijão exige temperaturas entre 12°C e 30°C (ideal: ~21°C) e áÁgua suficiente na floração e enchimento de grãos. Quando plantado fora da janela ideal, o risco inclui:
- Seca na fase crítica → Menos vagens e grãos mal formados
- Excesso de chuvas → Doenças como antracnose e ferrugem
- Temperaturas extremas → Abortamento de flores
Informação ao produtor
A Embrapa já disponibiliza os resultados para extensionistas rurais e cooperativas, com planos de expandir as simulações para outras culturas e regiões. A meta é reduzir perdas e aumentar a rentabilidade do feijão, que movimenta R$ 3,5 bilhões/ano no Brasil.
Com as mudanças climáticas, definir a data correta de plantio nunca foi tão crucial. O estudo da Embrapa e UFG oferece um mapa preciso para os produtores de Goiás maximizarem colheitas e minimizarem riscos.
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