A Serra da Mantiqueira está no centro de uma revolução agroindustrial: pesquisas da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) buscam consolidar a cadeia produtiva do azeite de abacate, utilizando o maquinário das oliviculturas durante a entressafra da oliveira. A iniciativa visa ampliar a renda dos produtores, otimizar equipamentos e diversificar a produção regional. Com isso, aproveitar o potencial do abacate como matéria-prima de alto valor agregado.
A safra da oliveira é curta, ocorrendo entre o fim de janeiro e o início de abril. Esse período deixa os lagares ociosos durante grande parte do ano. Pesquisadores da Epamig comprovaram que, com adaptações simples, é possível utilizar o mesmo maquinário para extrair o óleo do abacate. E assim, agregar valor e utilidade ao parque industrial já existente na região. Segundo Luiz Fernando de Oliveira, pesquisador da Epamig, cerca de 40 lagares do Sudeste podem ser adaptados para a extração do azeite de abacate. Para isso, basta ajustes como a despolpa da fruta e a regulagem das centrífugas horizontais (decanters), devido ao maior volume e teor de óleo do abacate em relação à azeitona.
Dois projetos em andamento no Campo Experimental de Maria da Fé, ambos financiados por editais da Fapemig e da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, avaliam a produção e a qualidade do óleo de abacate, além de processos inovadores para a agroindústria. A modernização da unidade permitiu ampliar a capacidade de processamento e análise físico-química, essencial para garantir a qualidade do produto final.
Potencial produtivo e sustentabilidade
O abacate apresenta vantagens estratégicas: variedades como Hass e Fuerte podem atingir até 26% de óleo na polpa, com colheita distribuída ao longo do ano, Assim, permitindo abastecimento contínuo das agroindústrias. O aproveitamento de frutos fora do padrão de mercado, que seriam descartados, contribui para a sustentabilidade e reduz o desperdício. Além de abrir caminho para exportações. Atualmente, o Brasil exporta cerca de 150 mil litros de azeite de abacate por ano, principalmente para Estados Unidos, Itália e Japão, com expectativa de crescimento de 10% até 2025.

Empresas como Jaguacy e Fazenda Irarema já investem em fábricas com capacidade para processar até 3 mil quilos de abacate por hora. Enquanto produtores independentes, como José Carlos Gonçalves, destinam parte da produção para cosméticos e exportação para mercados asiáticos e americanos.
Qualidade, benefícios e perspectivas de mercado
O azeite de abacate possui perfil graxo semelhante ao azeite de oliva, com alto teor de ácido oleico, gordura monoinsaturada benéfica à saúde, além de compostos fenólicos antioxidantes. O consumo do óleo auxilia na redução do colesterol ruim (LDL) e no aumento do colesterol bom (HDL). Deste forma, contribuindo para a prevenção de doenças cardiovasculares e oftalmológicas, como catarata e cegueira noturna. Além do uso culinário, o óleo é aplicado na indústria de cosméticos e pode ser misturado ao azeite de oliva para criar novos produtos.
O laboratório da Epamig, recentemente modernizado, realiza análises físico-químicas e sensoriais para assegurar a qualidade do azeite de abacate, seguindo padrões internacionais e buscando acreditação junto ao Inmetro e ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Com o avanço das pesquisas, a expectativa é que o azeite de abacate conquiste espaço no mercado nacional e internacional. Portanto, impulsionando a economia da Serra da Mantiqueira e promovendo a sustentabilidade da agroindústria mineira. As iniciativas da Epamig, em parceria com produtores e instituições de fomento, posicionam Minas Gerais como referência em inovação e diversificação agrícola.
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