A população de jumentos no país caiu drasticamente desde 1996, segundo a Frente Nacional de Defesa dos Jumentos. Embora o uso desses animais tenha sido tradicional no sertão, sua pele passou a ser alvo do comércio internacional. O principal motivo, conforme apontado por especialistas, é a exportação para a China, onde se fabrica o ejiao, uma gelatina medicinal feita a partir da pele do animal.
Pesquisadores reforçaram o alerta durante o 3º Workshop Jumentos do Brasil, realizado em Maceió. “A situação do Brasil e do mundo em relação ao jumento é assustadora”, afirmou o professor Adroaldo Zanella, da USP.
Demanda chinesa pressiona rebanhos em todo o mundo
De acordo com a organização internacional The Donkey Sanctuary, a procura por pele de jumentos aumentou 160% entre 2016 e 2021. Em 2021, o abate chegou a 5,6 milhões de animais. A previsão para 2027, portanto, é ainda mais preocupante: 6,8 milhões.
No Brasil, porém, a criação desses animais não acompanha esse ritmo. Um estudo publicado na revista Animals revelou que não há uma cadeia produtiva estruturada. Além disso, os pesquisadores identificaram maus-tratos, abandono e fome entre mais de 100 jumentos analisados.
Zoonoses e crise no campo preocupam especialistas
Além dos impactos sobre os rebanhos, o transporte irregular e o abate sem controle sanitário geram outros riscos. “Existe um risco de que esses animais levarão, e consequentemente, espalharão, doenças que são danosas aos humanos e aos animais”, alerta a The Donkey Sanctuary.
O desaparecimento dos jumentos também traz efeitos sociais. “Atuam em locais de difícil acesso, como lavouras de cacau em pequenas propriedades”, explicou Patrícia Tatemoto, coordenadora da campanha da The Donkey Sanctuary no Brasil. “São dóceis, inteligentes e muito úteis no dia a dia rural.”
Tecnologia pode substituir o uso da pele animal
Diante desse cenário, especialistas enxergam alternativas viáveis para reduzir a pressão sobre os animais. “Estudos já apontam alternativas tecnológicas promissoras, como a fermentação de precisão, capaz de produzir colágeno em laboratório sem a necessidade de exploração animal”, afirmou o engenheiro agrônomo Roberto Arruda, da USP.
Enquanto isso, alguns países como Quênia, Nigéria e Tanzânia já adotaram restrições ao abate. No Brasil, dois projetos de lei estão em tramitação, um na Câmara dos Deputados e outro na Assembleia Legislativa da Bahia, com o objetivo de proibir a matança de jumentos.
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Fonte: Agência Brasil