O céu ainda clareava quando um salto chamou a atenção das câmeras do Instituto Arara Azul, instaladas nas copas do Pantanal Sul, na região da fazenda Caiman (MS). Não era uma arara, como se poderia esperar. Quem despencava de uma árvore de mais de seis metros de altura era um filhote de marreca-cabocla (Dendrocygna autumnalis), recém-nascido e ele não estava sozinho.
Sem sequer completar um dia de vida, os pequeninos alados já ensaiavam seu primeiro voo. Só que sem voar. O destino? O chão, direto, de bico e tudo. E, por incrível que pareça, saem ilesos. “Eles pulam. Sim, saltam de uma altura de mais de seis metros direto para o chão pantaneiro, onde seguem ao lado da mãe”, descreve o Instituto Arara Azul.
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A cena, que poderia assustar qualquer um, revela uma estratégia engenhosa da vida selvagem. Os filhotes, embora frágeis à primeira vista, nascem com ossos leves como galhos secos ao vento e uma plumagem que mais parece um cobertor de penas. Tudo neles é feito para amortecer o impacto, inclusive o instinto.
Marreca-cabloca usa ninho nas alturas
Durante a cheia, quando o solo se torna uma armadilha aquática para muitos animais, a marreca-cabocla escolhe as alturas para colocar seus ovos. E que melhor abrigo do que os ninhos das araras-azuis, esculpidos nos ocos de manduvis centenários? “São verdadeiros centros de biodiversidade, abrigando muito além do que os olhos imaginam”, destaca o instituto.
As armadilhas fotográficas instaladas nos troncos das árvores buscam, principalmente, estudar o comportamento das araras-azuis. Mas, volta e meia, acabam flagrando outros coadjuvantes, ou protagonistas, dependendo do ângulo.
No enredo do Pantanal, onde cada folha parece ter um segredo e cada galho esconde uma história, os ninhos das araras servem como palco para surpresas como essa: marrecas-caboclas que pulam no escuro, confiantes de que o chão, mesmo duro, vai acolher suas primeiras passadas.
Enquanto os olhos humanos arregalam, a natureza sorri, como quem diz: aqui, saltar é só o começo.
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