O produtor de soja que deseja manter produtividade e lucro precisa investir no controle dos nematoides. Caso contrário, pode enfrentar perdas expressivas na colheita. Em resumo, esses vermes microscópicos vivem no solo e atacam diretamente as raízes da planta.
Inimigo invisível
Apesar de invisíveis a olho nu, eles causam estragos visíveis no campo e prejuízos bilionários ao setor. Os nematoides são vermes cilíndricos, com tamanho entre 0,3 mm e 3 mm. Estão presentes em diferentes ambientes, como solo, plantas e animais.
Quando atacam apenas vegetais, são chamados de fitonematoides. Eles se dividem em dois grupos: endoparasitas e ectoparasitas. Os endoparasitas vivem dentro das raízes das plantas durante quase todo o ciclo. Já os ectoparasitas permanecem no solo, fora das raízes.
Na soja, os principais danos vêm dos nematoides endoparasitas. Eles se alojam nas raízes e dificultam a absorção de água e nutrientes.
Perdas que somam bilhões por ano
Segundo a Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), os nematoides causam perdas de R$ 16,2 bilhões por ano apenas na cultura da soja.
Em lavouras infestadas por nematoides das galhas, as perdas de produtividade podem chegar a 100%. Sem controle, o problema se agrava a cada safra. Além de atacar as raízes, os vermes se alimentam usando o estilete bucal. Eles penetram as células, retiram seu conteúdo e causam desnutrição. Em geral, plantas afetadas crescem menos, murcham, ficam amareladas e produzem menos vagens e grãos.
Nematoides transmitem doenças à lavoura
Durante o ataque, os nematoides também atuam como vetores de doenças. Ao inserir o estilete, podem transmitir vírus, bactérias e fungos ao tecido vegetal. Portanto, essas doenças agravam os sintomas e reduzem ainda mais o potencial produtivo da lavoura.
Três espécies mais comuns na soja
A Embrapa identificou mais de 100 espécies de nematoides associadas à soja. No entanto, três delas preocupam mais os produtores.
1. Nematoide das galhas (Meloidogyne spp.)
Esse grupo inclui mais de 80 espécies. No Brasil, Meloidogyne javanica e M. incognita causam os maiores prejuízos.
A M. javanica está presente em todas as regiões produtoras e é a mais agressiva. Já a M. incognita aparece em áreas antes cultivadas com café e algodão.
Esses vermes formam galhas nas raízes, causadas por secreções que estimulam o crescimento desordenado do tecido vegetal. As plantas infectadas exibem sintomas como folhas amareladas, reboleiras, necrose entre nervuras e até abortamento de vagens.
2. Nematoide de Cisto da Soja (Heterodera glycines)
Conhecido como NCS, esse nematoide tem ciclo de 23 dias. As fêmeas vivem nas raízes e produzem até 500 ovos, armazenados em seus corpos. Após a morte da fêmea, o corpo se transforma em cisto. Essa estrutura marrom protege os ovos por até 7 anos, mesmo sem hospedeiros. Ou seja, esses cistos voltam ao solo e dificultam a absorção de nutrientes e água. Os sintomas incluem clorose, nanismo e reboleiras na lavoura.
3. Nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus)
Esse é um endoparasita migrador. Ele se move por diferentes partes da raiz e causa danos mecânicos ao se alimentar. Além disso, as lesões abertas facilitam a entrada de patógenos como o Fusarium. Em geral, a planta afetada apresenta folhas amareladas e tamanho reduzido.
O nematoide pode sobreviver em condições adversas, como solo seco, calor intenso ou ausência de raízes, por até sete meses.
Estresse agrava o impacto na lavoura
Condições como solo arenoso, compactado, seca, baixa população de plantas e nutrição deficiente intensificam os danos causados por nematoides. Por isso, o produtor deve adotar práticas preventivas, mesmo antes de notar os primeiros sinais da infestação.
Controle eficiente exige manejo integrado
A forma mais eficaz de enfrentar os nematoides é o Manejo Integrado de Pragas (MIP). A técnica combina práticas agronômicas e químicas para reduzir a população desses vermes.
Quando o solo já está infestado, o controle se torna mais difícil. Por isso, a prevenção ainda é a estratégia mais indicada.
Confira abaixo as práticas recomendadas pelo MIP:
- Fazer limpeza do maquinário, reservatórios e canais de irrigação;
- Expor camadas profundas do solo ao sol nas horas mais quentes;
- Utilizar cultivares resistentes às espécies presentes na região;
- Adotar rotação de culturas com espécies não-hospedeiras;
- Realizar análises de solo e monitoramento digital de pragas;
- Aplicar defensivos recomendados para o controle de nematoides.
Portanto, ao combinar essas estratégias, o sojicultor reduz os riscos de infestação, protege a lavoura e assegura uma colheita mais rentável.
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