Embora Minas Gerais seja tradicionalmente reconhecida como a capital nacional dos queijos artesanais, outros estados brasileiros têm demonstrado que a excelência na produção queijeira não conhece fronteiras geográficas.
O VIII Prêmio Queijo Brasil, realizado em Blumenau (SC), comprovou essa realidade ao reunir mais de 2.200 participantes de 20 estados e premiar centenas de produtos artesanais de qualidade excepcional.
Espírito Santo: tradição capixaba em ascensão
O Espírito Santo conquistou destaque nacional no cenário queijeiro brasileiro, com três queijos capixabas recebendo medalhas de ouro no VIII Prêmio Queijo Brasil. Os produtos vencedores alcançaram notas superiores a 95 pontos em 100 possíveis, demonstrando a excelência técnica dos produtores locais.
Entre os campeões estão o Boursin Erve de Provence, da Queijaria Pedrazul (Domingos Martins), o Queijo Morbier, da Vila Veneto (João Neiva), e o Queijo Minas Meia Cura Calvi, da Calvi Laticínios (Cachoeiro de Itapemirim). Além das medalhas de ouro, essas queijarias também conquistaram prêmios de prata com produtos como Boursin Lemon, Boursin Alecrim e Queijo Asiago.

O sucesso capixaba não se limitou aos grandes produtores. O Sítio Hollunder, de Marechal Floriano, e a Queijaria Giacomin, de João Neiva, também subiram ao pódio com medalhas de prata e bronze. Portanto, evidenciando a força do setor artesanal no estado.
Investimento em pesquisa e desenvolvimento
O Governo do Espírito Santo implementou um projeto inovador para mapear, caracterizar e valorizar os queijos artesanais capixabas, financiado pelo Programa de Incentivo à Pesquisa (Inovagro). A iniciativa, coordenada pela Secretaria de Agricultura, conta com parcerias estratégicas do Incaper, UFES e Epamig.
O projeto busca identificar os diferentes tipos de queijo produzidos no estado, analisar características técnicas e promover a regularização sanitária. Entre os benefícios esperados estão a melhoria das práticas produtivas, redução de perdas e fortalecimento da Rota do Queijo Artesanal, que já atrai turistas para regiões como João Neiva, Montanhas Capixabas e Caparaó.
Atualmente, as queijarias artesanais representam mais de 40% das agroindústrias familiares do Espírito Santo, com cerca de 1.763 estabelecimentos distribuídos pelo território capixaba, segundo dados do IBGE.
Paraná: crescimento consistente e diversificação
O Paraná consolidou sua posição como segundo maior premiado no Prêmio Queijo Brasil, conquistando 165 medalhas – um crescimento de 27,9% em relação ao ano anterior. Os queijos paranaenses foram produzidos por 51 empresas familiares diferentes, demonstrando a diversificação e democratização da produção de qualidade no estado.

A distribuição das premiações paranaenses incluiu 47 medalhas de ouro, 66 de prata e 52 de bronze, evidenciando a consistência técnica dos produtores locais. O destaque ficou para a Queijaria Delícias Beni, de Jandaia do Sul, eleita a melhor queijaria do estado com seu queijo muçarela nozinho.
História de sucesso familiar
A trajetória da Delícias Beni exemplifica o potencial empreendedor do setor. Fundada em 2019 por Elzilene Dornele Alegre, que deixou sua profissão de auxiliar administrativa para se dedicar à produção artesanal, a queijaria representa o sonho de uma família que apostou no campo e na qualidade.
“Começamos pequenos, com poucas vacas e muita coragem, construindo nossa agroindústria familiar do zero”, relata Elzilene. Hoje, toda a família participa: o marido cuida do manejo dos animais, os filhos ajudam na ordenha e ela coordena a produção dos queijos.
Estrutura de apoio e desenvolvimento
O sucesso paranaense é resultado de uma estrutura robusta de apoio ao setor. A criação da Rota do Queijo em 2021 integrou a produção ao turismo rural. Enquanto o Prêmio Queijos do Paraná, que recebeu 476 inscrições de 107 produtores em 76 municípios, promove a valorização e divulgação da qualidade local.
O estado também oferece eventos regionais como o Inova Queijo (Sudoeste) e o Conecta Queijo (Oeste), além de apoio através do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agroindustrial Familiar (Susaf), ao qual 183 municípios já aderiram.
Rio Grande do Sul: preservando a tradição colonial
A Serra Gaúcha trabalha para valorizar e obter o reconhecimento oficial do queijo colonial, um produto com raízes históricas profundas na região. O “Seminário: Indicação Geográfica do Queijo Colonial da Serra Gaúcha” representa um marco importante nessa jornada.

O queijo colonial gaúcho tem origem na tradição dos imigrantes italianos que chegaram à região há 150 anos, sendo considerado um patrimônio alimentar dos povos do sul. A busca pela Indicação Geográfica visa preservar a cultura e impulsionar a economia regional, reconhecendo oficialmente o saber-fazer tradicional do território.
Minas Gerais: inovação na tradição
Embora Minas Gerais continue sendo referência nacional com mais de 400 prêmios no último concurso, o estado não descansa e continua investindo em melhorias em seus queijos artesanais. O projeto “Monitoramento da qualidade de queijos artesanais de Minas Gerais”, conduzido pela Epamig/ILCT, atende 91 queijarias em quatro regiões: Alagoa, Mantiqueira, Serras de Ibitipoca e Campo das Vertentes.

O projeto, financiado pela Fapemig desde 2022, oferece análises gratuitas e orientação técnica aos produtores, resultando em melhorias significativas na qualidade e rentabilidade. Produtores como Jayme Porfírio Mendes (Alagoa) e Maria Elisa de Almeida (Lima Duarte) conquistaram medalhas Super Ouro em concursos internacionais após aplicarem as recomendações do projeto.
O futuro do queijo artesanal brasileiro
O cenário nacional do queijo artesanal demonstra que a excelência não está restrita a uma única região. Estados como Espírito Santo, Paraná e Rio Grande do Sul estão construindo suas próprias tradições queijeiras, combinando técnicas tradicionais com inovação e apoio científico.
Essa diversificação geográfica da produção de qualidade fortalece o setor como um todo, oferecendo aos consumidores uma variedade crescente de sabores e texturas autenticamente brasileiras. O investimento em pesquisa, capacitação técnica e rotas turísticas especializadas cria um ecossistema favorável ao desenvolvimento sustentável da queijaria artesanal nacional.
Com o apoio de instituições de pesquisa, programas governamentais e a paixão dos produtores familiares, o Brasil caminha para se consolidar como uma potência mundial na produção de queijos artesanais. Sempre celebrando a diversidade regional e a riqueza cultural que cada território oferece a essa arte milenar.
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