Com pouco mais de 3 milhões de habitantes, o Uruguai transformou sua carne bovina em um produto premium, rastreável, sustentável e reconhecido em mais de 70 países. Este foi o tema central da missão técnica ao país promovida pela Agrotravel, com apoio do Sebrae-RR, que reuniu produtores e especialistas em uma imersão estratégica.
Durante a visita, o grupo percorreu Montevidéu e o interior uruguaio, conhecendo o Instituto Nacional de Carnes (INAC), a Associação Rural do Uruguai (ARU), fazendas modelo, confinamentos e a planta industrial da Minerva Foods.
Um destaque essencial do sistema uruguaio é a rastreabilidade individual e obrigatória para todo o rebanho, implementada desde 2006. Cada animal carrega brincos eletrônicos que registram seu histórico do nascimento até o abate, integrados ao sistema nacional SNIG.
“O que impressiona no Uruguai não é o volume da produção, mas a estratégia clara e organizada. Eles sabem exatamente o que estão vendendo: um produto ético, controlado e com história”, afirma Fábio Torquato, fundador da Agrotravel.
Certificações
O Uruguai consegue acessar nichos internacionais exigentes graças a certificações rigorosas. A ARU, que representa 75% do rebanho uruguaio, oferece a certificação Never Ever 3. Ela assegura a ausência de hormônios, antibióticos e alimentação com subprodutos de origem animal — um diferencial ainda pouco comum no Brasil.
A visita à planta da Minerva Foods em Montevidéu mostrou a sinergia entre indústria e produtores. A empresa fornece assistência técnica, uniformiza critérios de produção e mantém programas de certificação. Nos últimos 20 anos, foram investidos US$ 65 milhões no país, beneficiando mais de 5 mil pecuaristas.
Além disso, a planta utiliza tecnologias avançadas, como currais antiestresse baseados nas pesquisas de Temple Grandin e sistemas de classificação de carcaças por raio-X, garantindo precisão milimétrica no controle da gordura.
Logística
A logística do Uruguai também é um diferencial. O Porto de Montevidéu, com calado de 13 metros e expansão planejada para 14, funciona com automação total. Isso inclui agendamento digital e integração com a malha ferroviária que conecta as áreas produtivas à exportação.
O transporte de gado vivo segue protocolos rigorosos, resultando em mortalidade média de apenas 0,03% durante o trajeto marítimo.

Para encerrar a missão, os participantes participaram de uma oficina prática de churrasco uruguaio, símbolo da forte conexão cultural com a carne, que vai além do alimento e representa identidade nacional.
“Eles não exportam apenas carne, mas uma história, um modo de produção e uma imagem de país limpo e confiável. Isso encanta o mercado internacional”, conclui Torquato.
A experiência uruguaia mostra que, mesmo com estrutura menor, a combinação entre rastreabilidade, certificações, logística eficiente e cooperação entre produtores, indústria e governo constrói reputação de excelência.
Para o Brasil, o estudo traz aprendizados fundamentais: investir em rastreabilidade individualizada, fomentar certificações valorizadas no mercado, fortalecer o elo técnico entre indústria e campo, além de valorizar a carne como patrimônio cultural e econômico.
“O Brasil tem escala e é um gigante exportador. O exemplo do Uruguai evidencia como podemos agregar mais valor aos produtos com inteligência e posicionamento claro. Apesar do baixo volume, o Uruguai colhe grandes frutos dessa estratégia,” finaliza Torquato.
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