Resumo da notícia
- Pesquisadores japoneses ganharam o Ig Nobel de Biologia 2025 ao comprovar que pintar listras de zebra em vacas reduz drasticamente picadas de moscas, oferecendo alternativa sem pesticidas para o bem-estar animal.
- O estudo, inspirado nas zebras, mostrou que o padrão listrado cria uma ilusão que confunde as moscas, dificultando seu pouso e picada, validado em vacas Japanese Black (Wagyu).
- Vacinas listradas tiveram menos da metade das picadas e exibiram 20% menos movimentos de repelência, indicando menor estresse e mais tranquilidade nos animais.
- O método pode reduzir custos e o uso de inseticidas, mas a tinta usada dura poucos dias; os pesquisadores buscam soluções para aumentar a durabilidade da pintura.
Uma solução aparentemente bizarra, mas cientificamente comprovada, para um problema antigo da pecuária rendeu a uma equipe de pesquisadores japoneses um dos mais cobiçados (e divertidos) prêmios do mundo científico: o Ig Nobel de Biologia de 2025. O estudo demonstrou que pintar listras semelhantes às das zebras em vacas reduz drasticamente o número de picadas de moscas, oferecendo um método livre de pesticidas para o bem-estar animal.

A revista Annals of Improbable Research concede anualmente o Prêmio Ig Nobel, uma paródia do Nobel que busca “honrar conquistas que primeiro fazem as pessoas rirem e depois as fazem pensar”. O objetivo é celebrar o incomum, o imaginativo e, sobretudo, a curiosidade que impulsiona a ciência, mesmo por caminhos inesperados.
A inspiração por trás das listras
A pesquisa, conduzida por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisa em Agricultura e Alimentação (NARO) do Japão, não surgiu do acaso. O Dr. Tomoki Kojima e sua equipe se inspiraram em estudos anteriores que já haviam elucidado um mistério da natureza: por que as zebras têm listras. A hipótese mais forte é que esse padrão único cria uma ilusão de ótica que confunde os olhos compostos das moscas picantes (como a mosca-do-estábulo, Stomoxys calcitrans), dificultando o pouso e, consequentemente, a picada.
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Diante do desafio de um produtor rural que buscava alternativas aos pesticidas, o Dr. Kojima teve um insight. “Se funciona para zebras, por que não para vacas?”, pensou. A equipe então partiu para testar a hipótese em vacas da raça Japanese Black (Wagyu).
A metodologia e os resultados surpreendentes
Os pesquisadores dividiram as vacas em três grupos. Um foi pintado com listras pretas e brancas. Já outro foi pintado apenas com listras pretas (grupo de controle para verificar o efeito da tinta, e não do padrão). Por fim, o último grupo não foi pintado.
Os resultados, publicados em periódicos especializados, foram impressionantes. O número de moscas observadas picando as vacas listradas foi menos da metade em comparação com as vacas não pintadas.
O comportamento das vacas listradas mudou significativamente. Elas apresentaram menos 20% de movimentos de repelência, como sacudir a cabeça, bater o rabo e escoicear, indicando um claro estado de maior tranquilidade e menor estresse.
Impacto e limitações do método
O estudo vai além da curiosidade. As picadas de moscas são um grande problema na pecuária. Causam estresse, perda de peso, redução na produção de leite e podem transmitir doenças. O método das listras oferece uma alternativa ambientalmente amigável, que pode reduzir o uso de inseticidas químicos, diminuir os custos para o produtor e mitigar o crescente problema da resistência de pragas a pesticidas.
A principal limitação, como os próprios cientistas admitem, é a durabilidade. A tinta à base de água utilizada no experimento durou apenas alguns dias. A pesquisa agora busca desenvolver uma solução mais permanente, possivelmente em forma de vestimenta ou impressão direta no pelo do animal, que traga praticidade para uso em larga escala.
Uma tradição de sucesso japonês
Esta não é a primeira vez que o Japão se destaca no Ig Nobel. A conquista da equipe do Dr. Kojima marca o 19º ano consecutivo em que o país leva pelo menos um prêmio para casa. Com isso, consolidando uma tradição de pesquisas peculiares, porém rigorosas. Entre os vencedores históricos estão estudos sobre a percepção do sabor com hashis elétricos e a medição do atrito entre uma sola de sapato e uma casca de banana.
Em seu discurso de aceitação, o Dr. Kojima agradeceu aos colegas, familiares e, de forma especial, ao produtor rural que o desafiou a pensar fora da caixa. “Este prêmio é um incentivo para continuarmos buscando soluções simples e criativas para problemas complexos”, declarou.
O Ig Nobel de 2025 também celebrou outras dez pesquisas notáveis. Incluindo um estudo sobre o que acontece quando se diz a um narcisista que ele é inteligente. E também uma investigação para descobrir que tipo de pizza os lagartos preferem. Portanto, provando que o universo da ciência é vasto, diversificado e, acima de tudo, fascinante.