O agronegócio brasileiro ganhou, nesta semana, um retrato inédito de sua mecanização. A [BIM]³ – Boschi Inteligência de Mercado lançou o Panorama Setorial de Máquinas Agrícolas no Brasil 2025. Ele é considerado o levantamento mais completo já realizado sobre tratores, colheitadeiras e pulverizadores em uso no país. O estudo, que envolveu mais de 700 entrevistas entre fevereiro e julho, projeta uma frota total de 1,65 milhão de unidades e confirma o envelhecimento dos equipamentos como um dos principais desafios do setor.
Segundo a pesquisa, a idade média da frota é de 15 anos — 18 no caso dos tratores, 10 nas colheitadeiras e 8 nos pulverizadores. Mais da metade dos equipamentos em operação já superou 15 anos de uso, o que expõe a defasagem tecnológica no campo. “O estudo consolida-se como ferramenta estratégica para compreender o presente e projetar o futuro da mecanização do agronegócio nacional”, afirma Luis Vinha, sócio-diretor da [BIM]³.
Renovação e financiamento como gargalos
De acordo com o levantamento, 55% dos produtores pretendem adquirir novas máquinas nos próximos dois anos. O financiamento segue como obstáculo crítico: a maioria depende de bancos estatais, mas enfrenta burocracia e demora nos processos. “Sem mecanismos mais ágeis de crédito, a demanda reprimida não se converte em investimento, e o país posterga ganhos de produtividade”, avalia Gregori Boschi, também sócio-diretor da [BIM]³.

A pesquisa mostra que a locação de equipamentos ganhou força. Hoje, 38% das propriedades já alugam colheitadeiras, 19% utilizam pulverizadores alugados e 11% recorrem à locação de tratores. Para os autores do estudo, a tendência confirma que os produtores estão abertos a novos modelos de acesso para reduzir custos e ampliar a flexibilidade.
Perfil das decisões e avanço tecnológico
O Panorama 2025 revela que 70% das aquisições são feitas diretamente pelos proprietários ou familiares, evidenciando o peso estratégico do investimento. Embora o perfil seja predominantemente masculino, culturas como o café já registram 18% de liderança feminina nas escolhas. A análise geracional indica predominância da Geração X (39%) nas decisões, seguida pela Geração Y (24%), Baby Boomers (12%) e Geração Z (15%).
Em relação às tecnologias, o produtor brasileiro busca máquinas mais conectadas, inteligentes e adaptadas a diferentes culturas. GPS, telemetria e agricultura de precisão já fazem parte da realidade, mas há demanda por recursos como sensores de ajuste em tempo real, pulverização de alta precisão e sistemas autônomos.
Sustentabilidade e tendências de mercado
O estudo mostra que o diesel continua predominante, mas alternativas como etanol e biometano começam a ganhar espaço. O etanol já é considerado opção por 19% dos produtores no uso de colheitadeiras e 13% em pulverizadores. “A transição energética está em curso e deve redefinir a matriz de abastecimento no médio prazo”, destaca Boschi.

A pesquisa ainda reforça que a manutenção preventiva e corretiva é feita, em grande parte, dentro das próprias fazendas, prática que fortalece a autossuficiência do produtor. No entanto, concessionárias e oficinas especializadas mantêm papel decisivo em casos mais complexos, fator que influencia diretamente a reputação das marcas. John Deere lidera em presença e satisfação, seguida por Jacto, Case IH e New Holland.
Projeção até 2030
O Panorama 2025 estima que, até 2030, a frota agrícola brasileira alcance 1,8 milhão de unidades — sendo 1,48 milhão de tratores, 231 mil colheitadeiras e 89 mil pulverizadores. A expansão, segundo os autores, depende de crédito acessível, avanço tecnológico e novas soluções de acesso, como a locação.
“O mercado caminha simultaneamente para a modernização da frota, inovação nos modelos de acesso e digitalização das operações, com sustentabilidade ganhando espaço”, resume Boschi.