Descoberta em  ilhas do litoral paulista oferece alternativa sustentável ao uso de fungicidas químicos e reduz resistência de patógenos
Foto: Zejúlio / Wikimédia Commons

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Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, identificaram bactérias nas Ilhas de Alcatrazes e Palmas, no litoral de São Paulo, que combatem pragas dos cultivos de soja. Os microrganismos demonstram potencial para o desenvolvimento de produtos biológicos inovadores que oferecem alternativas sustentáveis ao uso de fungicidas químicos.

O estudo triou 20 cepas de Streptomyces spp., isoladas das duas ilhas próximas a São Sebastião, no litoral paulista. Os cientistas testaram os microrganismos contra importantes fitopatógenos da soja, incluindo a mancha-alvo (Corynespora cassiicola), a podridão seca da haste e da vagem (Phomopsis sojae), a podridão de carvão da raiz (Macrophomina phaseolina) e a mancha púrpura da semente (Cercospora kikuchii).

Mercado aquecido impulsiona pesquisa

A descoberta surge em momento estratégico para o agronegócio brasileiro. O mercado de bioinsumos agrícolas no Brasil registra expansão superior a 10% ao ano nos últimos cinco anos. “A demanda por produtos biológicos, especialmente para grandes culturas como a soja, estimula empresas e produtores a buscar soluções inovadoras para integrar ao manejo fitossanitário”, afirma o engenheiro agrônomo Juan Lopes Teixeira, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola da Esalq.

Teixeira desenvolveu a pesquisa sob orientação da professora Simone Possedente de Lira, do Departamento de Ciências Exatas.

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Duas gerações de produtos biológicos

O projeto apresenta duas inovações principais. A primeira utiliza células vivas de Streptomyces spp. no desenvolvimento de produtos biológicos — tecnologia presente em menos de 15 produtos no mundo. A segunda emprega metabólitos secundários desses microrganismos para o controle de doenças.

Os testes selecionaram quatro cepas para avançar no desenvolvimento de fungicidas de primeira geração. Uma cepa foi escolhida para produzir um produto de terceira geração. Os resultados in vitro alcançaram níveis de controle superiores a 53% em cultivos paralelos (feitos com diferentes culturas numa mesma área) e acima de 88% em cultivos cercados (em espaço confinado). Os metabólitos secundários ultrapassaram 84% de controle.

Agricultura regenerativa e resistência a fungicidas

Os resultados contribuem para uma agricultura mais regenerativa e reduzem a pressão de seleção de patógenos resistentes a fungicidas químicos. “Os biológicos atuam de forma complementar, proporcionam maior sustentabilidade no manejo de doenças e preservam a eficácia das moléculas sintéticas”, conclui o engenheiro agrônomo.

A descoberta posiciona o Brasil como referência em biotecnologia agrícola e oferece aos produtores de soja ferramentas mais sustentáveis para o controle de doenças nas lavouras.

Por Caio Albuquerque – Jornal da USP