Demanda aquecida da China e da Índia e oferta mundial restrita explicam a valorização, que eleva os custos para a indústria e ameaça as margens dos produtores rurais na próxima safra.
CNA. Foto: Wenderson Araujo/Trilux/Sistema CNA/Senar

O preço do enxofre nos portos brasileiros acumula uma alta de aproximadamente 90% desde janeiro de 2025, de acordo com relatórios semanais da StoneX, empresa global de serviços financeiros.

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Apenas na última semana de setembro, a cotação subiu cerca de US$ 30 por tonelada, intensificando uma valorização que já preocupa importadores e agricultores. O analista de Inteligência de Mercado da StoneX, Tomás Pernías, destaca que os preços atuais não eram vistos desde 2022, no auge da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Dois fatores principais explicam a disparada: a demanda internacional aquecida e uma oferta global restrita. Países como China e Índia continuam comprando grandes volumes do insumo, enquanto a disponibilidade no mercado permanece limitada. “Esse cenário mantém os preços em níveis elevados e pode se estender nos próximos meses”, projetou Pernías.

Impacto em cadeia na produção de fertilizantes

O enxofre é uma matéria-prima estratégica para a produção de ácido sulfúrico e ácido fosfórico, componentes essenciais dos fertilizantes fosfatados usados massivamente na agricultura brasileira. A valorização do insumo, somada à alta de outros componentes como a amônia, pressiona diretamente os custos de fabricação desses adubos.

Embora esse aumento nem sempre chegue imediatamente ao agricultor, ele gera um efeito dominó: reduz as margens de retorno da indústria, limpa a produção e aumenta a incerteza no mercado. Custos elevados também fazem as empresas evitarem promover cortes de preços no varejo, mantendo a firmeza das cotações mesmo sem um repasse integral.

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Cenário desafiador para a safra 2025/26

Para a próxima safra, importadores e agricultores terão que lidar com custos de produção elevados e relações de troca pouco atrativas. Nesse contexto, muitos produtores já planejam reduzir o uso de fertilizantes para conter despesas, uma medida que pode comprometer a produtividade das lavouras.

A situação preocupa porque o Brasil depende das importações do insumo. Entre janeiro e agosto de 2025, o país comprou 1,6 milhão de toneladas de enxofre, um volume 8% maior que no mesmo período de 2024, mas a preços significativamente mais altos. Pernías resume: “o momento exige que o produtor adote um gerenciamento de custos e de riscos ainda mais rigoroso”.