Resumo da notícia
- Mais de 8 mil famílias e 80 grupos do Pará estão aptos a fornecer alimentos para a COP30, que ocorrerá em Belém em 2025, movimentando R$ 3,3 milhões na economia local com produtos da agricultura familiar e agroecologia.
- Pela primeira vez, a COP exigirá que 30% dos alimentos servidos sejam de agricultura familiar, agroecologia ou povos tradicionais, destacando a importância e capacidade produtiva do Pará para grandes eventos internacionais.
- O levantamento considerou critérios rigorosos como registro no CAF, emissão de nota fiscal e normas sanitárias, e reforça que a produção local é diversificada e suficiente para atender demandas significativas.
- A agricultura familiar no Brasil representa 77% dos estabelecimentos agrícolas e 67% das ocupações rurais, sendo fundamental para a preservação ambiental e para o desenvolvimento sustentável, especialmente na Amazônia.
Mais de 8 mil famílias e 80 grupos do Pará estão aptos a fornecer alimentos ao evento climático em Belém. A COP30, que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA), pode movimentar R$ 3,3 milhões na economia local. O valor deve vir da compra de alimentos de agricultores familiares e produtores agroecológicos do estado.
O levantamento foi feito pelos institutos Regenera e Fronteiras do Desenvolvimento. O objetivo foi identificar fornecedores capazes de atender às exigências do edital publicado pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) em agosto. Pela primeira vez, uma conferência do clima exigirá que pelo menos 30% dos ingredientes servidos aos participantes venham da agricultura familiar, da agroecologia ou de povos e comunidades tradicionais.
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Agricultores locais prontos para atender à demanda
O mapeamento aponta que 80 grupos organizados, entre associações e cooperativas, e cerca de 8 mil famílias já estão aptos a fornecer alimentos à conferência.
Segundo o cofundador do Instituto Regenera, Maurício Alcântara, a iniciativa comprova que o Pará tem produção suficiente para atender grandes eventos. “Quando se fala em ampliar a oferta de alimentos agroecológicos, sempre perguntam se há produtores suficientes. O mapeamento mostra que sim”, afirma.
O estudo considerou critérios como registro no Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF), emissão de nota fiscal e cumprimento das normas sanitárias. Alcântara explica que o levantamento é apenas o início. “Há muito mais produção além dessas 8 mil famílias. Queremos mostrar a diversidade de produtos e origens existentes no Pará”, destaca.
Importância da agricultura familiar no Brasil
A agricultura familiar representa 77% dos estabelecimentos agrícolas do país, segundo o Anuário Estatístico da Agricultura Familiar. O setor ocupa 80,8 milhões de hectares, o equivalente a 23% da área total agrícola nacional.
Essas propriedades respondem por 23% do valor bruto da produção agropecuária e por 67% das ocupações no campo. São mais de 10 milhões de trabalhadores rurais, concentrados principalmente no Nordeste.
Para Alcântara, a inclusão da agricultura familiar e da agroecologia na COP30 é um marco.
“São produtores que respeitam o bioma, produzem de forma regenerativa e ajudam a preservar as florestas”, ressalta.
Ele considera a medida um legado para as próximas conferências. “É essencial reconhecer esses produtores e mostrar que eventos internacionais podem priorizar a produção local”, defende.
Produção amazônica ganha destaque
Entre os grupos mapeados está o Grupo para Consumo Agroecológico (Gruca), criado em Marituba, região metropolitana de Belém. O agricultor urbano Noel Gonzaga, um dos fundadores, conecta pequenos produtores a consumidores por meio do grupo.
As 25 famílias do Gruca também recebem visitantes interessados em conhecer de perto as práticas sustentáveis de produção.
Gonzaga cultiva macaxeira, abóbora, feijão, quiabo, milho e açaí, além do ariá, conhecido como batata amazônica. Ele explica que o alimento quase desapareceu das mesas locais com a chegada do trigo.
“Hoje estamos trazendo o ariá de volta. É parte da nossa cultura alimentar”, afirma.
A produção abastece a própria família e o excedente é vendido por meio do Gruca e do ponto de cultura alimentar Iacitata, que reúne uma rede de produtores agroecológicos. O Iacitata vai atuar nos espaços oficiais da COP30.
Açaí e sustentabilidade no cardápio da COP30
Entre os produtos que Gonzaga fornecerá está o açaí, símbolo da cultura amazônica. “O açaí é as nossas boas-vindas. É parte da nossa identidade”, diz.
O fruto chegou a ser vetado no edital da conferência por suposto risco de contaminação, mas a decisão foi revista após debate com produtores.
“A COP deu sorte. Vai coincidir com o auge da safra. Em novembro ainda teremos muito açaí disponível”, afirma Gonzaga.
Para ele, produzir de forma sustentável é uma questão de saúde e de respeito ao consumidor. “Eu planto o que como. Isso me obriga a ter práticas limpas e agroecológicas”, completa.
Legado sustentável
A presença dos agricultores familiares na COP30 reforça o papel do Brasil na promoção de um modelo de produção sustentável. Além de fortalecer a economia local, a medida aproxima o evento das comunidades que vivem e preservam a Amazônia.
Com a iniciativa, o Pará mostra que é possível unir clima, cultura e agricultura em um mesmo propósito: garantir o futuro do planeta com alimentos saudáveis e sustentáveis.