Resumo da notícia
- Exportadores brasileiros de café tiveram prejuízos de R$ 5,9 milhões em agosto devido à defasagem na infraestrutura portuária, que impediu o embarque de 624.766 sacas, gerando custos extras com armazenagem e atrasos.
- O não embarque resultou em perda de US$ 221,28 milhões em receitas cambiais, equivalente a R$ 1,2 bilhão, afetando gravemente a economia do setor no momento de aumento das exportações da nova safra de café arábica.
- Cecafé alerta que a situação tende a piorar sem investimentos urgentes para ampliar a capacidade dos portos, especialmente no Porto de Santos, onde a infraestrutura atual está esgotada e não acompanha o crescimento do agronegócio.
- Há críticas ao processo do leilão do Tecon Santos 10, com restrições da ANTAQ que podem judicializar e atrasar a ampliação da capacidade portuária, prejudicando o comércio exterior e o escoamento do café brasileiro.
Os exportadores brasileiros de café enfrentam uma crise logística que resultou em prejuízos de R$ 5,9 milhões apenas no mês de agosto. A defasagem da infraestrutura portuária impediu o embarque de 624.766 sacas do produto. Isso é equivalente a 1.893 contêineres, gerando custos extras com armazenagem adicional, pré-stacking e detentions.
Os dados foram levantados pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) junto aos seus associados. E revelam um cenário alarmante para o setor cafeeiro nacional, que vê seu potencial de crescimento limitado por gargalos estruturais.
Impacto cambial chega a R$ 1,2 bilhão
Além dos prejuízos diretos com custos logísticos, o não embarque desse volume impediu que o Brasil recebesse US$ 221,28 milhões em receitas cambiais. Isso representa R$ 1,205 bilhão considerando a cotação média do dólar em agosto (R$ 5,4463) e o preço médio FOB de exportação de US$ 354,18 por saca de café verde.
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O problema se intensifica justamente no momento em que as exportações aumentam com a entrada do café arábica da nova safra no mercado. Evidenciando a incapacidade da infraestrutura atual de absorver a demanda crescente do agronegócio brasileiro.
“Cenário tende a piorar”, alerta Cecafé
Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé, manifesta preocupação com a tendência de agravamento da situação nos próximos meses e anos. “É um cenário que se repete e, infelizmente, tende a piorar se não houver investimentos rápidos nos portos do Brasil para aumentar a oferta de capacidade de pátio e berço”, lamenta o executivo.
Segundo Heron, o agronegócio brasileiro cresce a taxas expressivas, mas a infraestrutura portuária não acompanha essa evolução. Portanto, gerando prejuízos constantes especialmente aos exportadores que dependem de contêineres. “Sem investimentos, veremos cada vez mais portos lotados e atrasos constantes nas embarcações. A estrutura atual está esgotada”, alerta.
Polêmica no leilão do Tecon Santos 10
O diretor técnico do Cecafé critica especialmente o imbróglio no processo do leilão do Tecon Santos 10, causado pelas restrições propostas pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), que limitam a participação de empresas no processo licitatório.
“A morosidade e a restrição de empresas ao certame, deliberadas pelo colegiado da ANTAQ, incorrerão na judicialização do processo e atrasarão ainda mais a oferta de capacidade aos usuários do Porto de Santos, ampliando os prejuízos ao comércio exterior brasileiro”, afirma Heron.
O executivo destaca que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) já se manifestou favorável à remoção de restrições no leilão durante painel promovido pelo Tribunal de Contas da União (TCU), sugerindo “remédios” mais adequados para coibir eventuais concentrações de mercado.
Mobilização por novo marco regulatório
O Cecafé vem intensificando ações junto ao governo, parlamentares e entidades representativas para buscar melhorias na infraestrutura portuária. Em setembro, a entidade se reuniu com o deputado federal Arthur Maia, relator do Projeto de Lei 733/2025, que propõe um novo marco regulatório para o Sistema Portuário Brasileiro.
Na ocasião, a entidade defendeu a manutenção da garantia de modicidade e publicidade das tarifas portuárias, previstas na Lei nº 12.815/2013. E ressaltou a importância de uma legislação moderna que aumente a competitividade do comércio exterior sem elevar custos aos usuários de carga.
O Cecafé também propôs melhorias na governança e composição do Conselho de Autoridade Portuária (CAP), incluindo participação dos usuários de carga para debater temas como poligonais, dragagem e integração entre diferentes modais de transporte.
Audiência pública deve debater crise portuária
Em contato com o deputado federal Evair de Melo, o Cecafé apresentou requerimento para realização de audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara Federal. O objetivo é debater os impactos do esgotamento da infraestrutura portuária e os entraves impostos pela ANTAQ, além da urgência do leilão do Tecon Santos 10.
“O deputado Evair compreendeu a importância do tema e demonstrou interesse em apoiar os exportadores. Colocando-se à disposição para protocolar nosso pedido de audiência pública, que deverá ser agendada em breve”, relata Heron.
O Cecafé também tem promovido reuniões com outras entidades vinculadas à exportação, apresentando dados do Boletim Detention Zero (DTZ) para buscar sinergia na apresentação de demandas às autoridades portuárias. A mais recente foi com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), onde se propôs união de esforços para agilizar o leilão do Tecon Santos 10.
Números revelam caos nos principais portos
O Boletim DTZ foi elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé. E revela que em agosto de 2025, metade dos navios (168 de 335 embarcações) tiveram atrasos ou alteração de escalas nos principais portos brasileiros.
No Porto de Santos, responsável por 80,2% dos embarques de café de janeiro a agosto, o índice de atrasos ou alterações chegou a 67%, afetando 122 dos 182 porta-contêineres. O tempo mais longo de espera registrado foi de 47 dias.
Apenas 4% dos procedimentos de embarque tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto no porto santista. Enquanto 59% ficaram entre três e quatro dias e 38% tiveram menos de dois dias.
O complexo portuário do Rio de Janeiro é o segundo maior exportador de café brasileiro com 15,8% de participação. E registrou índice de atrasos de 38%, com o maior intervalo chegando a 36 dias. Neste porto, 44% dos procedimentos tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto, 37% entre três e quatro dias, e 19% menos de dois dias.
Setor pede indicadores e planejamento
O diretor técnico do Cecafé enfatiza a importância de a nova lei de portos contemplar a criação de indicadores logísticos para avaliar o desempenho portuário de forma transparente. “É necessário que os investimentos e a ampliação da capacidade em infraestrutura portuária antecipem a demanda, deixando de ser pautados apenas por narrativas”, defende.
Segundo Heron, as autoridades públicas têm dificuldade para enxergar gargalos logísticos diante das consecutivas quebras de recordes do comércio exterior brasileiro. “O Cecafé e outras entidades entendem a necessidade de ampliar a infraestrutura portuária. E devido à complexidade da matéria, estamos unindo esforços para buscar medidas que possam mitigar os riscos dos desafios logísticos e portuários do país”, conclui.