Resumo da notícia
- Pesquisadores brasileiros iniciaram na caverna Grotte di Castellana, Itália, um experimento pioneiro para cultivar "astroplantas" em condições espaciais, testando vegetais geneticamente modificados com ciclo acelerado de 15 dias.
- O experimento usa a Câmara de Crescimento Compacta, tecnologia brasileira que controla luz e temperatura, essencial para futuras missões espaciais, permitindo o cultivo e transporte de plantas em ambientes extremos.
- Plantas serão cultivadas em regolito lunar, com e sem inoculação do fungo Trichoderma, para avaliar o impacto na expressão gênica e no desenvolvimento, visando viabilizar o cultivo em solo lunar para colônias espaciais.
- O ambiente controlado da caverna simula condições espaciais extremas, com iluminação contínua, temperatura constante e monitoramento diário, garantindo dados precisos sobre germinação, crescimento e adaptação das plantas.
Uma caverna nas profundezas da Itália se transformou em laboratório espacial nesta segunda-feira. Pesquisadores brasileiros da Rede Space Farming Brazil iniciaram um experimento pioneiro que pode revolucionar a forma como cultivamos alimentos fora da Terra. O local escolhido: as Grotte di Castellana, um complexo de cavernas que replica condições semelhantes às encontradas no espaço e na Lua.
A missão análoga CARE-1&2 CAAM, que se estende até 26 de outubro, vai testar o desenvolvimento das chamadas “astroplantas” – vegetais geneticamente modificados com porte reduzido e ciclo de crescimento acelerado de apenas 15 dias. O convite para a participação brasileira partiu da Space Pioneers Association, organização italiana sediada em Trento.
Tecnologia brasileira no centro do experimento
O coração da operação é a Câmara de Crescimento Compacta (CGB), equipamento desenvolvido para missões espaciais que combina tamanho reduzido com controle preciso de luz e temperatura. “Este dispositivo pode armazenar, transportar e fornecer matérias-primas para sistemas bioregenerativos em qualquer tipo de missão espacial”, explica o professor Paulo Rodrigues, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP).
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O pesquisador brasileiro Rafael Loureiro, da Winston-Salem State University e integrante da rede nacional, enviou à Itália as sementes utilizadas no experimento, obtidas no Wisconsin Fast Plants Program, da Universidade de Wisconsin (EUA).
Solo lunar e fungos: a combinação que pode viabilizar colônias espaciais
O experimento testa quatro diferentes tratamentos. Dois grupos de plantas crescerão em regolito lunar – material que simula o solo da Lua – desde a germinação. Outros dois iniciarão em rockwool (lã de rocha) e serão transplantados para o regolito após sete dias. A inovação está na metade das amostras: receberão inoculação do fungo Trichoderma, conhecido por beneficiar o desenvolvimento vegetal.
“Vamos comparar plantas com e sem o fungo, analisando a expressão gênica global – o transcriptoma. Queremos identificar genes diferencialmente expressos em plantas que crescem em regolito lunar na presença ou ausência do Trichoderma”, detalha a professora Camila Patreze, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). A análise genética contará com parceria de pesquisadores da Universidade de Nápoles Frederico II.
Condições extremas controladas
O ambiente da caverna oferece condições únicas para simular desafios espaciais. Durante os 14 dias de experimento, as plantas ficarão sob iluminação contínua, temperatura mantida em 22°C (±2°C) e umidade relativa de 60%. Avaliações diárias registrarão taxa de germinação, altura e número de folhas, com documentação fotográfica completa do progresso.
“Esta é uma missão análoga onde testamos o desenvolvimento das plantas em condições extremas na Terra, simulando fatores que podem ser enfrentados em ambientes fora do planeta”, esclarece Patreze. “Os resultados poderão ser úteis para missões espaciais ou futuros cultivos na Lua.”
Por que astroplantas?
A coordenadora da Rede Space Farming Brazil, pesquisadora Alessandra Fávero, explica a escolha estratégica: “As astroplantas foram selecionadas porque possuem porte pequeno e florescimento rápido. São capazes de crescer em pequenos volumes de substrato e ambientes restritos”. Essas características geneticamente aprimoradas – ciclo curto, menor porte e produtividade comparável às plantas convencionais – as tornam ideais para a agricultura espacial.
A participação brasileira na missão se fortaleceu em setembro, quando a Embrapa assinou Termo de Compromisso com a Space Pioneers. O acordo prevê integração de esforços para experimentos biológicos no projeto “Scientific Collaboration for Commercial Analog Astronaut Missions”.
A Space Pioneers dedica-se a apoiar profissionais e entusiastas do setor espacial, promovendo participação em eventos e incentivando carreiras em STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática).
Com resultados esperados para o final de outubro, o experimento pode representar um passo crucial para tornar viável a produção de alimentos em futuras bases lunares e missões espaciais de longa duração.