Resumo da notícia
- Pesquisadores da Epamig ILCT e Fiocruz desenvolvem tecnologia que aumenta o valor nutricional do leite materno humano doado, beneficiando bebês prematuros internados em UTIs neonatais de Minas Gerais.
- A técnica adapta processos da indústria de laticínios para evitar a perda de gordura e nutrientes durante o manuseio, congelamento e transporte do leite materno doado.
- O homogeneizador utilizado subdivide os glóbulos de gordura em partículas menores, impedindo a separação e aderência do componente gorduroso, essencial para a nutrição dos prematuros extremos.
- A pesquisa está na fase pré-clínica, testando a preservação dos nutrientes e a eficiência do leite homogeneizado em bombas de infusão usadas nas UTIs neonatais.
Bebês prematuros internados em UTIs neonatais de Minas Gerais podem ganhar uma nova chance de sobrevivência. O Instituto de Laticínios Cândido Tostes da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig ILCT) desenvolve, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma tecnologia que aumenta o valor nutricional do leite materno humano doado.
A pesquisa, que começou em 2019, adapta processos da indústria de laticínios para os bancos de leite humano. A técnica evita a perda de gordura e nutrientes essenciais durante o manuseio, congelamento e transporte do alimento.
“O trabalho consiste na adaptação de tecnologias usadas na indústria do leite para a aplicação em bancos de leite humano”, define a pesquisadora e professora da Epamig ILCT, Denise Sobral.
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Parceria visa reduzir mortalidade de prematuros extremos
A iniciativa busca aumentar a disponibilidade de leite materno nutritivo para prematuros extremos, bebês que nascem com menos de 1,5 quilo. A médica neonatologista e pesquisadora da Fiocruz, Maria Elizabeth Moreira, revela que a equipe procurava uma instituição parceira há quase duas décadas.
“Esse casamento com a Epamig ILCT foi perfeito. Ainda mais, trabalhando essa questão junto ao Banco de Leite Humano do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e quem vai se beneficiar muito disso serão os nossos bebês”, afirma.
Como funciona a homogeneização do leite humano
A gordura do leite materno se separa naturalmente após a doação. O congelamento, descongelamento, transporte e pasteurização fazem o componente gorduroso aderir aos frascos e sondas. O resultado é um leite parcialmente desnatado — justamente quando o bebê prematuro precisa de mais calorias para sobreviver.
A solução encontrada pelos pesquisadores utiliza um homogeneizador de pequeno porte. O equipamento força o leite a passar por pequenos orifícios, subdividindo os glóbulos de gordura em partículas menores que não se separam nem aderem às superfícies.
“A ideia foi processar o leite humano em um homogeneizador de pequeno porte. No processamento, esse leite é forçado a passar em pequenos orifícios, então o glóbulo de gordura que é grande, se subdivide em pequenos glóbulos que não se separam mais e também não se aderem às superfícies”, detalha Denise Sobral.
Pesquisa avança para fase pré-clínica
Os pesquisadores já definiram as condições ideais de processamento, testando diferentes pressões e temperaturas. Agora, a equipe avalia se o leite preserva os nutrientes e fatores de imunidade após o tratamento. Os testes também simulam o comportamento do produto nas bombas de infusão utilizadas nas UTIs neonatais.

“Estamos na fase pré-clínica. No visual, conseguimos distinguir o leite homogeneizado daquele que não passou pelo processamento, é perceptível que não há a separação de fases. Também estamos simulando a alimentação por sonda e bombas de infusão”, informa o gestor do Laboratório de Controle de Qualidade de Leite Humano da Fiocruz, Jonas Borges da Silva.
Testes clínicos previstos para 2026
A equipe planeja realizar os testes clínicos em 2026, caso os resultados da fase atual confirmem as expectativas. Antes de oferecer o leite aos bebês, os pesquisadores avaliarão segurança, eficiência e possíveis efeitos adversos.
“Ao final queremos ofertar um leite humano que seja totalmente aproveitado por esses prematuros impactando no crescimento, no neurodesenvolvimento, no comprimento e no peso de cada bebê”, explica Maria Elizabeth Moreira.
Jonas Borges projeta que o trabalho resultará no aumento da disponibilidade de conteúdo calórico no leite humano fornecido para bebês internados em UTIs neonatais.
“Os resultados até agora são o que a gente esperava. Estou muito orgulhosa de participar desse projeto. Eu acho que, em breve, vamos conseguir oferecer um leite de melhor qualidade para esses bebês que precisam tanto”, comemora Denise Sobral.