Resumo da notícia
- O mercado global de lácteos enfrenta pressão sobre preços e margens devido à oferta elevada e demanda contida até o final de 2025, segundo análise da StoneX apresentada em webinar recente.
- Nos EUA, a produção cresce acima da demanda, com preços do leite e derivados em queda, e margens apertadas previstas para o fim do ano devido ao aumento do abate de vacas.
- Na Europa, problemas sanitários como a língua azul aumentam a oferta em momento de baixa atividade industrial, pressionando preços, especialmente de queijos, apesar de margens mais estáveis.
- No Brasil, importações influenciam preços internos, e a relação de troca desfavorável para produtores pode levar a mudanças de atividade, embora margens possam melhorar em 2026 com custos menores de insumos.
O mercado global de lácteos enfrenta um cenário de pressão sobre preços e margens dos produtores, com oferta elevada e demanda contida até o final de 2025. A análise é da StoneX, empresa global de serviços financeiros, que apresentou nesta quarta-feira (29) o panorama do setor no webinar “Mercado de Lácteos: Panorama e Oportunidades até o final de 2025”.
Nos Estados Unidos, o maior exportador mundial, a produção avança em ritmo superior à demanda, impulsionada por investimentos em genética e processamento. Segundo Nate Donnay, diretor de Inteligência de Mercado de Laticínios da StoneX, os preços do leite e derivados, como manteiga, iniciaram 2025 em queda. Ele alerta que as margens devem se apertar ainda mais no fim do ano com a redução dos preços do leite e o aumento do abate de vacas.
Na União Europeia, o cenário é similar, apesar de margens mais estáveis até meados de 2026. Problemas sanitários recentes, como a língua azul que afetou prenhez de vacas em países como Alemanha, França e Reino Unido, devem gerar aumento de oferta em momento de menor atividade industrial, pressionando preços, especialmente de queijos.
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No Brasil, Marianne Tufani, consultora de Gestão de Riscos da StoneX, destaca que a influência das importações, que representam cerca de 13% do consumo nacional, é decisiva na formação dos preços internos. A alta ou queda dos preços internacionais impacta diretamente o mercado doméstico, que ainda sofre com baixa elasticidade e alta sensibilidade a variações de demanda.
Relação leite / arroba
A relação de troca entre o litro de leite e a arroba da vaca gorda está desfavorável em importantes regiões produtoras, como São Paulo e Goiás, levando pecuaristas a considerar mudança de atividade. No entanto, a consultora observa que a margem de lucro pode melhorar no início de 2026, principalmente pelos menores custos de insumos, como o milho.
O preço do milho, por sua vez, é influenciado pela safra global. O USDA projeta estoques elevados para 2026 nos EUA, com forte exportação e preços estáveis. No Brasil, a safra recorde e a lenta comercialização contribuem para controlar os custos da nutrição animal e manter margens positivas, embora o risco climático, como uma possível intensificação do fenômeno La Niña, represente ameaça para o Sul do país.
Quanto à demanda, a inflação alimentar em queda por quatro meses consecutivos tem dado fôlego ao consumo, mas o elevado endividamento das famílias (até 60% em algumas regiões) limita o consumo de produtos premium. “O impulso típico de final de ano, com 13º salário e festas, pode estimular as compras, mas a sustentabilidade desse consumo depende da confiança do consumidor e do cenário econômico”, explica Tufani.
No fechamento, a StoneX aponta que a tendência baixista deverá predominar até o primeiro trimestre de 2026, apesar de possíveis suportes pontuais vindos da redução das margens na Argentina e do aumento da paridade de importação. O mercado global de lácteos seguirá pressionado pela oferta abundante e condições desafiadoras para os produtores.
