Resumo da notícia
- O setor frigorífico brasileiro intensifica ações na China com o projeto The Beef and Road, reunindo cerca de 140 empresários para ampliar parcerias e mercados no país asiático.
- O projeto Brazilian Beef, em 20 anos, investiu mais de R$ 60 milhões e impulsionou exportações em 500%, fortalecendo a carne bovina brasileira no exterior.
- Zhengzhou, cidade estratégica com 12 milhões de habitantes, é foco da expansão logística e comercial do Brazilian Beef na China, conectando o leste e o interior do país.
- O Brasil lidera com 50% das importações chinesas de carne bovina, mantendo sua posição como maior fornecedor mundial para o mercado chinês.
O setor frigorífico brasileiro intensifica sua presença no mercado asiático com uma agenda estratégica de eventos na China durante novembro. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) realizaram neste domingo (2/11) a terceira edição do projeto The Beef and Road: Bridging the Brazil–China Beef Routes, em Zhengzhou, capital da província de Henan.
As ações ocorrem enquanto o setor aguarda possível flexibilização das tarifas americanas, após encontro entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos. Mesmo assim, exportadores brasileiros mantêm foco na prospecção de novos mercados e na consolidação de parcerias em outros continentes.
Projeto Brazilian Beef completa 20 anos com crescimento de 500%
O projeto setorial Brazilian Beef, iniciado em 2001 pela parceria entre ApexBrasil e Abiec, fortalece a imagem da carne bovina brasileira no exterior. Em duas décadas, a iniciativa firmou dez projetos, investiu mais de R$ 60 milhões e impulsionou um crescimento superior a 500% nas exportações.
A atual edição do evento dá continuidade às ações de promoção do setor e busca ampliar as atividades comerciais para além dos grandes centros urbanos como Pequim e Xangai. Cerca de 100 empresários chineses e 40 brasileiros, todos associados da Abiec, participam do encontro, que também conta com autoridades locais e representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
O evento inclui rodadas de negócios, apresentações culturais e o tradicional Brazilian Beef Dinner, que serve cortes selecionados harmonizados com vinhos brasileiros.

“Os chineses estão conhecendo com mais detalhes o sabor da carne bovina brasileira. Estamos promovendo o encontro direto entre quem compra e quem vende”, afirmou Roberto Perosa, presidente da Abiec. “A parceria com a Apex reúne compradores e vendedores no mesmo espaço, e os negócios acontecem.”
Zhengzhou consolida posição estratégica para distribuição na China
Com população superior a 12 milhões de habitantes, Zhengzhou atua como um dos principais centros logísticos e de consumo da China. A cidade conecta o comércio entre o leste e o interior do país e reafirma sua importância estratégica para a consolidação do Brazilian Beef no mercado asiático.
Outras edições do projeto ocorreram em Hangzhou, capital da província de Zhejiang, e em Nanjing, fortalecendo a estratégia de expansão regional e diversificação dos canais de distribuição. A Abiec também participa da China–LAC Business Summit em Zhengzhou, fórum que reúne representantes de governos e empresários da América Latina e do Caribe com autoridades e investidores chineses.
Brasil domina 50% das importações chinesas de carne bovina
O Brasil mantém posição de maior fornecedor mundial de carne bovina à China. Atualmente, 67 plantas frigoríficas (SIFs) e 31 empresas associadas à Abiec possuem habilitação para exportar ao mercado chinês.
Entre janeiro e setembro de 2025, o Brasil exportou 1,15 milhão de toneladas de carne bovina para a China, com faturamento de US$ 6,06 bilhões. Os números representam altas de 38,7% em volume e 75,8% em valor em relação ao mesmo período de 2024.
A China responde, neste ano, por 48,8% da receita total das exportações brasileiras de carne bovina e 47,3% do volume embarcado. O país asiático consolida-se, pelo quinto ano consecutivo, como principal destino do produto brasileiro, muito à frente dos Estados Unidos (10,4%) e do México (4,1%). As tarifas americanas reforçaram esse panorama.
Setor participa da maior feira de importação do mundo
Após o evento em Zhengzhou, a Abiec participa, entre 5 e 10 de novembro, da China International Import Expo (CIIE) 2025, em Xangai. A feira figura entre as maiores do mundo em importação.
A participação ocorre em parceria com ApexBrasil, Mapa, Embaixada do Brasil em Pequim e Consulado-Geral do Brasil em Xangai. Os expositores da Abiec ocupam o Pavilhão das Empresas, que oferece o tradicional churrasco brasileiro assinado pelo Barbacoa, uma das atrações mais procuradas pelos visitantes.
O governo chinês organiza a CIIE por meio do Ministério do Comércio (Mofcom). Reconhecida como a primeira feira nacional de importação do mundo, a CIIE reúne mais de 3.500 expositores e centenas de milhares de visitantes. Desde sua criação em 2018, o evento recebeu mais de 3.400 empresas de 128 países e cerca de 800 mil visitantes.
Novos mercados abrem portas à proteína brasileira
O setor intensifica esforços de divulgação no exterior em ano particularmente desafiador devido às tarifas americanas. Mesmo antes da crise, mercados importantes vinham abrindo portas à proteína animal brasileira, como Japão e Vietnã.
A comitiva presidencial visitou esses países em março, acompanhada por empresários e representantes da pecuária, incluindo associados da Abiec. Ambos os países enviaram missões técnicas ao Brasil nos últimos meses e já negociam os primeiros embarques. As Filipinas, que receberam etapas do projeto Brazilian Beef, consolidaram suas parcerias comerciais.
Sudeste Asiático expande importações de carne brasileira
Em outubro, a passagem da comitiva presidencial por Malásia e Indonésia coincidiu com fóruns empresariais nos dois países. A Abiec participou das agendas com autoridades locais e brasileiras, promovendo encontros e diálogos com importadores.
Entre janeiro e setembro de 2025, o comércio de carne bovina brasileira com Indonésia e Malásia apresentou forte expansão, consolidando ambos os países como mercados estratégicos no Sudeste Asiático.

O Brasil exportou US$ 76 milhões e 17 mil toneladas para a Indonésia, alta expressiva em relação a 2024. O país posiciona-se como terceiro principal fornecedor, após Austrália e Índia. Para a Malásia, as exportações brasileiras somaram US$ 46 milhões e mais de 15 mil toneladas até setembro, crescimento de 32% em valor e 15% em volume sobre o mesmo período do ano anterior.
Ambos os mercados reconhecem o Brasil como fornecedor de carne bovina halal, segura e competitiva. O avanço das habilitações e protocolos sanitários amplia o acesso a novos produtos e oportunidades comerciais na região.
O encontro entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos ocorreu justamente na Malásia, em meio à crise tarifária. O diálogo aumentou as expectativas de flexibilização das barreiras tarifárias americanas, o que traria alívio a segmentos impactados como o da carne. Enquanto isso, os esforços de divulgação e fechamento de negócios continuam, seguindo o sucesso da participação brasileira na Anuga 2025, maior feira de alimentos do mundo, realizada recentemente na Alemanha.