Estudo mostra que práticas de manejo e eficiência produtiva reduzem a pegada hídrica nas fazendas leiteiras
Foto: divulgação - Embrapa - Gisele Rosso

O aquecimento global aumenta o consumo de água e pressiona a sustentabilidade da produção de leite no Brasil. Um estudo realizado por instituições brasileiras e alemãs revelou que boas práticas de manejo e melhorias produtivas reduzem significativamente a pegada hídrica da atividade.

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Os pesquisadores analisaram 67 propriedades leiteiras no Rio Grande do Sul e cruzaram dados de produtividade, uso de recursos e cenários climáticos. O resultado mostrou que é possível reduzir o consumo de água com ajustes simples no manejo e na eficiência do rebanho.

Boas práticas reduzem a pegada hídrica do leite

A equipe científica realizou 192 combinações entre boas práticas e cenários climáticos para avaliar o consumo hídrico em diferentes sistemas produtivos. As simulações mostraram variação média de 299 a 1.058 litros de água por quilo de leite corrigido.
Segundo o pesquisador Julio Palhares, da Embrapa Pecuária Sudeste, fatores como maior produtividade de milho e soja, eficiência na lavagem das salas de ordenha e tratamento de efluentes ajudam a reduzir o consumo de água. “Melhorar a eficiência produtiva e o manejo é essencial para diminuir a pegada hídrica”, destacou o pesquisador.

Como o clima afeta a eficiência hídrica

Foto: divulgação – Embrapa/Gisele Rosso

O estudo apontou que o aquecimento global amplia o uso de água verde e azul na produção. As temperaturas mais altas aumentam a evapotranspiração das plantas e o consumo hídrico dos animais.
Nas fazendas analisadas, sistemas a pasto apresentaram pegadas hídricas maiores que os confinados, devido à menor produtividade por vaca. Mesmo assim, propriedades bem gerenciadas mostraram bons resultados. “Independentemente do modelo, o manejo correto garante sustentabilidade”, afirmou Palhares.

Desempenho produtivo e uso racional da água

Os pesquisadores calcularam a pegada hídrica seguindo as diretrizes do Manual de Avaliação da Pegada Hídrica, que considera o uso direto e indireto de água.
A água verde corresponde à utilizada na produção de alimentos para o gado. A azul vem de fontes superficiais ou subterrâneas, usadas na dessedentação e limpeza. Já a água cinza representa o volume necessário para diluir resíduos e efluentes.
Nos sistemas a pasto, a pegada verde representou 98,8% do total. Nos confinados, o índice chegou a 99%, reforçando a influência da dieta animal na sustentabilidade da produção.

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Eficiência produtiva é o caminho para reduzir impactos

A combinação ideal para menor pegada hídrica inclui aumento da produtividade do milho e da soja, maior produção de leite por vaca e redução do uso de água nas ordenhas.
Nas simulações, o aumento de 25% no rendimento das culturas agrícolas reduziu consideravelmente a pegada hídrica verde. Já o tratamento dos efluentes foi essencial para diminuir a pegada cinza.
O estudo mostrou que vacas mais produtivas e dietas equilibradas resultam em menor uso de água por litro de leite. Essa eficiência também reduz o impacto climático e melhora o desempenho econômico das fazendas.

Aquecimento global desafia a sustentabilidade do setor

O aquecimento global tende a elevar o consumo de água verde e azul entre 1% e 2%. As temperaturas mais altas aumentam a sede dos animais e reduzem a produtividade das lavouras, especialmente de milho e soja.
Palhares explica que o desafio cresce a cada ano. “O aumento da temperatura e a queda da produtividade das culturas reduzem as opções de mitigação disponíveis aos produtores”, alertou o pesquisador.

Produção eficiente apoia metas da ONU

As ações para reduzir a pegada hídrica nas fazendas contribuem diretamente para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Entre eles, estão o ODS 2, sobre agricultura resiliente; o ODS 12, que incentiva o uso eficiente dos recursos naturais; e o ODS 13, voltado ao combate às mudanças climáticas.
Os resultados reforçam que eficiência produtiva e manejo sustentável são estratégias-chave para garantir a segurança alimentar e a preservação dos recursos hídricos no futuro da pecuária leiteira brasileira.