Uma pesquisa realizada em Unaí (MG) mostrou que uma estratégia simples reduz custos com fertilizantes sem comprometer a produtividade das lavouras. Os cientistas testaram a adubação de restituição associada ao balanço de nutrientes durante três safras e seis cultivos. A técnica repõe apenas os nutrientes exportados nos produtos colhidos, o que torna o uso dos insumos mais eficiente.

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Os pesquisadores confirmaram que o ajuste do aporte de nutrientes favorece o uso consciente dos fertilizantes e conserva os recursos naturais. A prática também reduz a pegada de carbono e aumenta a eficiência energética das lavouras em solos de Cerrado com fertilidade construída.

Estudo considera alta demanda nutricional

As culturas anuais demandam grandes quantidades de Nitrogênio, Fósforo e Potássio, o que eleva o uso de fertilizantes no Brasil. Ou seja, essa necessidade pesa nos custos de produção e aumenta os riscos econômicos. Muitos produtores aplicam adubações tradicionais mesmo em solos com fertilidade acima dos níveis críticos.
Pesquisas anteriores mostraram que áreas consolidadas do Cerrado acumularam estoques de nutrientes ao longo dos anos. Esse acúmulo supera a condição original de baixa fertilidade, mas ainda assim muitos agricultores mantêm práticas antigas por segurança.

Artigo apresenta resultados

O estudo, coordenado pelo pesquisador Álvaro Vilela de Resende, reuniu especialistas da Embrapa Milho e Sorgo e da UFV. A Fazenda Decisão, em Unaí, apoiou os experimentos. O artigo foi publicado na revista Pesquisa Agropecuária Brasileira, em seção dedicada à COP 30. A publicação integra a Jornada pelo Clima da Embrapa e celebra os 60 anos da revista.

Testes ocorreram em lavoura comercial

Foto: divulgação – Embrapa/Samuel Abreu

Os pesquisadores instalaram parcelas de larga escala em um talhão com plantio direto e fertilidade construída. Os tratamentos envolveram a adubação de restituição com N, P e K exportados, o manejo padrão da fazenda e um controle sem adubação. As avaliações ocorreram durante três ciclos de soja e milho ou sorgo, com e sem braquiária em consórcio.

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Resultados indicam eficiência

Os resultados mostraram que a adubação não altera a produtividade da soja no talhão analisado. O nitrogênio limitou o rendimento do milho, enquanto o consórcio com braquiária prejudicou o sorgo. No entanto, a braquiária aumentou a produtividade da soja seguinte.
Resende afirma que a adubação de restituição, vinculada ao balanço de nutrientes, mantém a produtividade e a rentabilidade. A estratégia usa fertilizantes com mais eficiência e mantém a fertilidade do solo. O manejo também evita déficits ou excessos de nutrientes, o que favorece a sustentabilidade ambiental.

Produtores ainda relutam em mudar

O pesquisador lembra que a falta de resposta à adubação com Fósforo e Potássio já apareceu em estudos de outras regiões do Cerrado. Mesmo assim, muitos produtores continuam usando fórmulas fixas de NPK. Segundo Miguel Marques Gontijo Neto, os agricultores raramente calculam o balanço de nutrientes e desconhecem seu valor.
Resende explica que o manejo adequado dimensiona apenas a reposição necessária dos nutrientes exportados e das perdas do sistema. Ele afirma que a estratégia simples permite acompanhar a fertilidade ao longo do tempo com análises de solo. O produtor, assim, evita excessos e reduz desperdícios.

Estratégia pode ser automatizada

A solução validada possibilita ajustar as adubações por talhão com precisão e baixo custo. Em geral, muitas fazendas podem automatizar o processo com ferramentas já disponíveis. O objetivo é equilibrar continuamente o aporte de nutrientes em sequências de cultivos e ampliar o uso consciente dos insumos agrícolas.
Situações de desequilíbrio entre nutrientes adicionados e removidos são comuns e podem reduzir produtividade ou gerar desperdício. Em resumo, esse desequilíbrio também aumenta a pegada de carbono e reduz a rentabilidade. Por isso, a estratégia proposta contribui para maior eficiência energética e para a neutralidade ambiental das lavouras consolidadas.