Resumo da notícia
- Sementes de lentilhas encontradas em silos vulcânicos das Ilhas Canárias indicam cultivo local há cerca de dois mil anos, adaptado ao clima seco e quente da região.
- O DNA das lentilhas revelou origem no Norte da África e continuidade do cultivo indígena mesmo após a colonização europeia.
- Mulheres canárias foram fundamentais na transmissão das técnicas agrícolas que preservaram a lentilha local até hoje.
- A diversidade genética das lentilhas nas ilhas pode auxiliar a agricultura futura, especialmente diante das mudanças climáticas e da adaptação a ambientes áridos.
A história das lentilhas das Ilhas Canárias surpreende. Sementes achadas em antigos silos vulcânicos deram provas de que esse alimento já era cultivado há uns dois milênios na região. Cientistas fizeram a primeira análise genética de sementes arqueológicas do tipo e mostraram que muita coisa se manteve, principalmente no clima seco e quente que favorece a lentilha até hoje.
Gran Canaria tinha povos indígenas que guardavam os grãos em grandes cavidades de rocha, escavadas em locais remotos. Essas sementes ficaram seguras por séculos, resultando em um registro genético raro. O DNA das lentilhas foi comparado com o de variedades atuais da Espanha, Marrocos e das próprias Canárias. Portanto, revelando que o cultivo começou com habitantes vindos do Norte da África e se manteve, embora os europeus tenham ocupado as ilhas depois.
Segundo a pesquisadora Jenny Hagenblad, mesmo com a população original diminuindo após a colonização, os europeus preferiram seguir com as mesmas culturas das comunidades indígenas. O segredo da sobrevivência da lentilha local talvez esteja nas mulheres canárias, que sempre transmitiram técnicas e saberes sobre a escolha das plantas corretas para a alimentação. Até hoje, elas sabem mais sobre cultivos alimentares que os homens da ilha.
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O estudo mostrou outra curiosidade: diferentes tipos de lentilhas cresceram em várias ilhas, incluindo lugares onde se pensava que elas nem existiam. Isso é bom, porque diversidade genética pode ajudar a agricultura a enfrentar desafios futuros.
A lentilha de Lanzarote
Lojas na Espanha usam o nome “lentilha de Lanzarote” para indicar qualidade. Embora essas lentilhas costumem ser cultivadas no continente espanhol e tenham DNA misturado, não em Lanzarote. Pesquisadores confirmaram que variedades de Lanzarote deram origem a híbridos que ajudaram no desenvolvimento das lentilhas espanholas.
Com o avanço das mudanças climáticas, as lentilhas canárias tendem a ganhar ainda mais relevância, pois agricultores as selecionaram por séculos para crescer em clima quente e seco.
O estudo, publicado no Journal of Archaeological Science, recebeu apoio do Conselho Europeu de Pesquisa (ERC) e do Ministério de Ciência da Espanha, e contou com análises feitas em supercomputadores da Suécia.