Cooperativa paranaense elimina intermediários, aposta em certificações e encurta o caminho até o consumidor europeu

Na madrugada de 20 de novembro, um lote de 420 quilos de goiabas deixou Carlópolis, no Norte Pioneiro do Paraná, rumo à Europa em um voo cargueiro. A carga parecia comum para quem olhava de fora. Mas para os cooperados da Cooperativa Agroindustrial de Carlópolis (COAC) significava um divisor de águas. Era a primeira exportação direta de goiaba feita pela entidade, sem a presença de intermediários.​

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

O negócio rendeu um valor três vezes maior que o preço médio pago no mercado interno. Mostrando como a fruta ganha força quando segue à risca as normas internacionais de qualidade e segurança. Por acordo contratual, o país europeu que recebeu a remessa não foi revelado, o que não diminui o peso simbólico dessa estreia para a cadeia produtiva regional.​

Do estande na feira ao contrato fechado

Essa história não nasceu no aeroporto, mas em corredores de feira e muitas reuniões técnicas. Desde 2017, a goiaba de Carlópolis marca presença na Fruit Attraction, em Madri, evento que virou vitrine internacional para frutas brasileiras.​

Na edição mais recente da feira, em outubro, representantes da COAC e da Xportare, empresa especializada em acesso a mercados, fizeram cerca de 20 contatos com compradores europeus e saíram da Espanha com uma lista de exigências claras e um compromisso: ajustar processos e entregar o primeiro lote em poucas semanas. Pouco mais de um mês depois, as caixas de fruta já cruzavam o Atlântico, sinal de que a cooperativa entendeu rápido o recado do mercado.​

IG, GlobalGAP e “zero resíduo” na prática

O embarque não aconteceu só por boa vontade comercial, e sim por um pacote de credenciais que a goiaba de Carlópolis acumulou ao longo dos anos. A fruta tem Indicação Geográfica (IG) reconhecida e certificação GlobalGAP, que atestam boas práticas agrícolas, rastreabilidade, cuidado ambiental e condições adequadas de trabalho.​

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
Foto: Divulgação – Embrapa/Paulo Lanzetta

Além disso, os produtores trabalham com o conceito de “zero resíduo”, buscando níveis de defensivos abaixo dos Limites Máximos de Resíduos exigidos pela União Europeia, muitas vezes muito próximos de zero. Algo decisivo para entrar nas gôndolas europeias com competitividade. Essa combinação de origem protegida, certificação internacional e baixa presença de resíduos virou argumento forte na negociação com importadores.​

Poda escalonada e fruta o ano inteiro

Para abastecer o mercado europeu sem falhar na oferta, a COAC aposta em técnica e planejamento de safra. Uma das estratégias é a chamada poda escalonada, em que o produtor divide a poda de frutificação da goiabeira em etapas ao longo do ano. Em vez de cortar todos os galhos de uma vez, ele intervém em partes da planta em momentos diferentes, o que gera colheita contínua e reduz períodos de entressafra.​

Essa regularidade garante que a fruta chegue mais fresca ao consumidor. E permite que a cooperativa atenda contratos de exportação semanais ou mensais com maior segurança. Portanto, sem depender apenas de uma grande safra concentrada em poucos meses.​

Mais lucro, mais produtores e menos tempo de viagem

A diferença da nova fase está na forma de vender, não no destino. Entre 2020 e 2024, a COAC já tinha enviado mais de 340 toneladas de goiaba para o exterior, principalmente para a Europa. Mas sempre via traders, que ficavam com parte relevante da margem.​

Agora, com a venda direta, a cooperativa negocia em contato próximo com o comprador, recebe todo o valor do contrato e ainda pode ajustar calibres, embalagens e logística conforme a exigência de cada mercado. Isso aumenta a rentabilidade dos produtores, fortalece a própria COAC e tende a atrair novos agricultores e novas áreas de plantio para a cultura da goiaba em Carlópolis.​