Análise genética em pomares da Austrália, Brasil e África do Sul indica que até 100% das nozes vêm de cruzamentos entre diferentes cultivares
Foto: Leonardo Moriya/Embrapa

Um estudo internacional confirmou que a polinização cruzada exerce papel decisivo na produtividade e qualidade da macadâmia, elevando o tamanho das nozes, o rendimento e o teor de óleo. A pesquisa, conduzida na Austrália, no Brasil e na África do Sul, analisou mais de 1,3 mil frutos coletados em 23 pomares e apontou que, em 17 deles, entre 80% e 100% das nozes resultaram de polinização cruzada.

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Pomar de nogueira macadâmia em Dois Córregos, SP. Foto: Jeanne Scardini Marinho-Prado/Embrapa

A polinização cruzada ocorre quando o pólen de uma planta fertiliza a flor de outra da mesma espécie. Segundo os cientistas, esse processo se mostra predominante entre as 19 cultivares comerciais de macadâmia avaliadas, o que revela alta dependência desse método reprodutivo para garantir frutos de qualidade comercial.

Nozes maiores, mais óleo e maior rentabilidade

Os resultados demonstraram que as nozes formadas por cruzamento entre cultivares apresentaram amêndoas maiores, mais pesadas e com até 3,5% a mais de óleo. O rendimento médio dos frutos foi entre 3,3% e 6,4% superior ao das nozes autopolinizadas. Diferença que pode representar ganho financeiro de até US$ 841 por tonelada, considerando o preço médio internacional de US$ 3 mil por tonelada com casca.

Esse ganho de qualidade está ligado ao fenômeno xenia, em que o pólen influencia diretamente as características das sementes e frutos, como já se observou em outras culturas, a exemplo das amêndoas e avelãs.

Desenho dos pomares influencia produção

A pesquisa mostrou que o arranjo das cultivares dentro dos pomares afeta a produtividade. Em plantações compostas por grandes blocos de uma única cultivar, a autopolinização predomina no centro dos talhões, gerando menor rendimento. Para melhorar a eficiência, os cientistas recomendam intercalar diferentes cultivares e posicionar colmeias estrategicamente, favorecendo o transporte de pólen pelas abelhas.

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No Brasil, por exemplo, a cultivar IAC 4-12B apresentou 88% de frutos formados por polinização cruzada. Enquanto na África do Sul a cultivar A4 mostrou comportamento semelhante ao observado na Austrália. Já a cultivar ‘814’ teve apenas 10% de cruzamentos no local analisado.

Abelhas como aliadas essenciais

A pesquisa reforça que abelhas são fundamentais na polinização da macadâmia, uma cultura fortemente dependente de insetos polinizadores. A pesquisadora Kátia Braga, da Embrapa Meio Ambiente, destaca a necessidade de preservar a diversidade de abelhas silvestres e incorporá-la ao manejo dos pomares. “A polinização por diferentes insetos complementa, mas não é substituída pela abelha manejada”, afirmou.

Ela recomenda o desenho de pomares com talhões menores e diversificados, intercalados com faixas de vegetação nativa para garantir a presença de várias espécies de polinizadores.

Estudo premiado e parceria brasileira

A Southern African Society for Horticultural Sciences premiou o trabalho e reconheceu o artigo como o melhor publicado em periódico científico revisado por pares na área de horticultura durante congresso realizado em janeiro de 2025, em Polokwane, na África do Sul.

A publicação integra o projeto “Levantamento da entomofauna associada presente e identificação de insetos-pragas exóticos ausentes com potencial de dano ao cultivo de macadâmia em Dois Córregos (SP)”. Ele foi desenvolvido entre 2019 e 2024 pela Embrapa Meio Ambiente e pela Queen Nut Indústria e Comércio de Alimentos Ltda. Também assinam o artigo os pesquisadores Thayne Munhoz (Embrapa) e Leonardo Moriya (Queen Nut).