O Brasil se destaca como o maior produtor de café do mundo, representando cerca de 38% da produção global do grão na safra 2023/2024, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). No Cerrado Mineiro, região famosa pelo café especial brasileiro, três mulheres estão à frente de propriedades que são exemplos de sustentabilidade. Ana Paula Curiacos, Juliana Rezende e Mariana Veloso adotam práticas que preservam biomas, promovem desenvolvimento científico, purificam nascentes, fornecem água às comunidades locais e mantêm plantações autossuficientes durante a seca.
As três produtoras foram reconhecidas pelo Prêmio Mulheres do Agro, organizado pela Bayer em parceria com a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). Ana Paula Curiacos conquistou o primeiro lugar na categoria “pequena propriedade” em 2023, Juliana Rezende recebeu o mesmo prêmio em 2022, e Mariana Veloso ficou em terceiro lugar na categoria “grande propriedade” em 2023. Esse reconhecimento destaca a responsabilidade socioambiental e a inovação tecnológica implementadas em suas fazendas.
Ana Paula Curiacos e a Fazenda Três Meninas
Ana Paula Curiacos, formada em Zootecnia, lidera a Fazenda Três Meninas em Monte Carmelo desde 2016. Ela transformou a propriedade em um centro de referência para agricultura regenerativa, colaborando com universidades para oferecer cursos de agronomia, engenharia florestal e cafeicultura. “Isso impactou positivamente os indicadores, mantendo alta produtividade e inspirando propriedades vizinhas e de outras regiões a seguirem o exemplo”, explica Ana Paula.
A propriedade se transformou em um espaço aberto a cursos de agronomia, engenharia florestal e cafeicultura, para que as futuras gerações obtenham uma visão mais ampla e atual das práticas agronômicas. Essa iniciativa expandiu as possibilidades de pesquisa. Também levou a zootecnista a palestrar em congressos e workshops, impactando mais de três mil pessoas nos últimos anos.
Juliana Rezende e a Fazenda Santa Bárbara
Juliana Rezende, formada em Farmácia, assumiu a Fazenda Santa Bárbara em 2015. Ela implementou práticas sustentáveis que lhe renderam o primeiro lugar no Prêmio Mulheres do Agro 2022. Juliana destaca que “a adoção de boas práticas agrícolas e o manejo regenerativo elevaram nossa qualidade, mostrando que a natureza e o meio ambiente são essenciais para alcançarmos o padrão dos cafés que entregamos hoje”. Entre seus projetos estão o ‘Amigos do Rio’ para uso inteligente da água e o ‘Love Bee’ para a produção de abelhas nativas.
Além disso, tem o projeto ‘Café com Carbono’ para medir e gerenciar o estoque de carbono nos pés de café. Outros projetos incluem ‘Amigos da Floresta’ para identificar animais locais e ‘Jungle Friends’ para estudar a interação dos animais com o café. A fazenda também mantém colmeias de abelhas sem ferrão, que produzem mel monofloral e servem como indicadores de segurança ambiental e alimentar.
Atualmente, temos 17 colmeias de abelhas sem ferrão, que funcionam como um berçário autossustentável, proporcionando a identificação de cinco espécies nativas, o que tem nos guiado na seleção das árvores mais adequadas para o plantio na região. Isso nos permite entender a interação entre as espécies de plantas e polinizadores, contribuindo para a manutenção prosperidade desse bioma do Cerrado”, ressalta a produtora.
Mariana Veloso e a Veloso Coffee
Mariana Veloso, gestora da Veloso Coffee em Carmo do Paranaíba, alia tecnologia e sustentabilidade. Ela reduziu em até 50% o uso de insumos na fazenda e exporta café para países como Suíça, Itália, Alemanha e Estados Unidos. “Desde cedo, acompanho e participo ativamente da atividade cafeeira. Via meu pai trabalhando com a cultura. Quando percebi, já estava completamente envolvida no processo e apaixonada por tudo isso”, conta Mariana. Com monitoramento em tempo real e controle rigoroso da irrigação, ela otimiza o crescimento das plantas e promove uma produção eficiente.
Em meio aos desafios de assumir a gestão do armazém da propriedade, se tornando responsável pela qualidade e criação de micro lotes de café na fazenda, a produtora reflete que “o café é uma verdadeira caixa de surpresas. Podemos colher o mesmo café por duas safras no mesmo local e, ainda assim, os cafés não serão iguais. Esse é o desafio: ter um manejo equilibrado, conciso e eficiente para acompanhar o perfil do café e sempre padronizar nossa qualidade”.
Reconhecimento pelo Prêmio Mulheres do Agro
Ana Paula, vencedora na categoria pequena propriedade do Prêmio Mulheres do Agro se tornou um ponto de referência na comunidade. “Embora sejamos pequenos produtores, nosso impacto é significativo. Garantimos água para mais de 7 mil pessoas em Iraí de Minas e transformamos a realidade local, por exemplo. Hoje, compartilhamos conhecimento com produtoras rurais que lideram outras fazendas e interessadas em fazer a diferença”, conta, destacando a importância de seu trabalho para o bem-estar da comunidade produtora de café no Cerrado Mineiro.
Já para Juliana, o reconhecimento pelo Prêmio Mulheres do Agro fez com que sua percepção sobre seu papel se transformasse. Ao receber a premiação, ela percebeu que seu legado já estava impactando positivamente muitas pessoas e que ela era, de fato, uma protagonista na história da cafeicultura mineira. “Acredito que, não apenas para mim, mas também para minhas colegas de trabalho e outras produtoras, o prêmio é um reconhecimento de que os frutos de nossa dedicação estão sendo vistos”, conta.
E por fim, a união de tecnologia e sustentabilidade para um manejo regenerativo em sua fazenda foi um dos motivos que fez com que Mariana fosse reconhecida pelo Prêmio Mulheres do Agro. Com essa combinação de tecnologias, ela economiza recursos hídricos e otimiza o crescimento das plantas, promovendo uma produção mais eficiente. “Receber o prêmio e todo o suporte levaram meu trabalho para frente. Espero que mais mulheres possam se destacar no cenário da cafeicultura.”
As iniciativas sustentáveis lideradas por Ana Paula Curiacos, Juliana Rezende e Mariana Veloso no Cerrado Mineiro não apenas melhoram a qualidade dos grãos de café, mas também causam um impacto positivo significativo nas comunidades locais e no meio ambiente. O reconhecimento pelo Prêmio Mulheres do Agro ressalta a importância dessas ações para a indústria de café e inspira outras produtoras a seguirem seus exemplos.
Inscrições vão até o final de julho
As inscrições para a sétima edição do Prêmio Mulheres do Agro estão abertas até 31 de julho. Para se inscrever ou indicar uma produtora rural, basta acessar o site da premiação.