As eleições presidenciais nos Estados Unidos têm grande influência no agronegócio global, especialmente quando mudanças de poder ocorrem em países com os quais o Brasil mantém relações comerciais complexas, marcadas por rivalidade e cooperação simultâneas. É o caso dos EUA. O atual presidente, Joe Biden, desistiu da reeleição e apoiou sua vice, Kamala Harris, como candidata do Partido Democrata para a convenção nacional em agosto. Do outro lado, Donald Trump, do Partido Republicano, tenta retornar à Casa Branca após um hiato de quatro anos.
A decisão eleitoral nos EUA já antecipa efeitos sobre as cotações de commodities como milho e soja, das quais os americanos e brasileiros são grandes produtores. O eventual retorno de Trump pode reacender tensões comerciais com a China, algo que marcou seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021. Naquela época, o Brasil se beneficiou da guerra tarifária, enviando recorde de 83,3 milhões de toneladas de soja aos chineses em 2018, 22% a mais que no ano anterior.
Alta na safra americana
No entanto, analistas apontam que a tendência de queda nos preços das commodities agrícolas. Isso se deve principalmente à perspectiva de oferta elevada nos EUA na safra 2024/25, independentemente do resultado eleitoral. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê uma safra de 120,70 milhões de toneladas de soja. Isso representa uma alta de 6,5% em relação à temporada anterior, e estoques finais de 11,85 milhões de toneladas, 26,1% maiores.
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Para o milho, a expectativa é de queda de 1,5% na colheita, para 383,56 milhões de toneladas, após uma safra recorde, e estoques de 53,26 milhões de toneladas, 11,7% maiores. No entanto, produtores e analistas seguem vigilantes quanto a possíveis reversões devido a intempéries climáticas. A temporada de furacões no fim do verão americano ou o fenômeno La Niña, que pode afetar o plantio da safra brasileira em setembro.
Apesar do eventual protecionismo trumpista, as relações entre Brasil e EUA foram marcadas por boa vontade naqueles anos, uma tradição histórica. Com a China, maior parceiro comercial brasileiro, o cenário é o melhor possível, não importa o resultado das eleições americanas. Mantendo a agenda diplomática de neutralidade e fomento à cooperação internacional, o país não deve sofrer maiores sobressaltos com a alternância de poder. Desde que se adapte às novas circunstâncias e busque novos mercados para dar respaldo a crises pontuais.
O presidente Lula já falou em entrevistas que continuara conversando com o presidente americano, seja quem for o vencedor das eleições americanas. Desde que isso contribua para que nosso agro continue com as portas abertas pelo mundo, esse é o caminho.