O Carrefour Brasil lamentou a recente declaração do CEO global do grupo, Alexandre Bompard, que gerou polêmica ao afirmar que a rede não venderia mais carne proveniente do Mercosul em suas lojas na França. A posição de Bompard provocou uma onda de boicotes por parte de frigoríficos brasileiros, resultando em relatos de falta de carne nas unidades do Carrefour em São Paulo.
Desde a declaração, que ocorreu no dia 20 de novembro, frigoríficos como JBS, Marfrig e Masterboi interromperam o fornecimento de carne ao Carrefour no Brasil. A suspensão começou a impactar as prateleiras das lojas, com clientes relatando escassez de produtos. Em uma pesquisa realizada pela Folha de S. Paulo, 34 dos 60 entrevistados afirmaram que notaram a falta de carne nas lojas da rede.
Em um comunicado, o Carrefour Brasil reconheceu que a suspensão do fornecimento afeta seus clientes, especialmente aqueles que confiam na empresa para abastecer suas casas com produtos de qualidade. “Estamos em diálogo constante na busca de soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível”, afirmou a empresa.
Governo apoia boicote
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, apoiou o boicote dos frigoríficos e criticou a maneira como Bompard abordou a qualidade da carne brasileira, destacando que o Brasil possui um dos melhores sistemas de sanidade alimentar do mundo. Ele ressaltou que as declarações do CEO francês parecem estar alinhadas com interesses protecionistas que têm ganhado força na França, especialmente em meio às discussões sobre um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia.
Analistas apontam que a interrupção no fornecimento pode ter um impacto significativo nas vendas do Carrefour Brasil, já que a carne bovina representa cerca de 12% das vendas totais da varejista. A situação é monitorada com preocupação, pois os estoques limitados podem levar à escassez real nos próximos dias.
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Enquanto isso, surgem especulações sobre uma possível influência do governo francês nas declarações do Carrefour e nas críticas à carne brasileira. O governo francês tem se mostrado contrário ao acordo com o Mercosul, temendo que os produtos sul-americanos possam prejudicar seus agricultores.
Apesar das dificuldades enfrentadas, o Carrefour Brasil reafirmou seu compromisso com o setor agropecuário brasileiro. E expressou esperança em resolver rapidamente a situação para atender seus clientes com qualidade e responsabilidade.
Embargo aumenta e inclui carne de frango
O ministro Carlos Fávaro anunciou que o embargo ao Carrefour no Brasil se estende também à carne de frango.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Fávaro expressou indignação com a posição do Carrefour e classificou a decisão como um “absurdo” e um pretexto protecionista. “Se ele não quer comprar os produtos brasileiros, é simples, não compra. Agora, dizer que não tem qualidade sanitária? Faz 40 anos que a França compra carne do Brasil”, afirmou o ministro. Ele ressaltou que a França representa apenas 0,5% das exportações de carne brasileira e que o Brasil possui garantias de qualidade sanitária reconhecidas mundialmente.
Fávaro enfatizou que “não vamos admitir que questionem a qualidade da nossa carne”. E reiterou que o Brasil possui um histórico sólido na produção de alimentos seguros e de qualidade. A crise atual ressalta as tensões comerciais entre os dois países e levanta questões sobre as futuras relações comerciais no setor agropecuário.