As mudanças climáticas estão ampliando o alcance e a gravidade da brusone, uma doença fúngica que compromete seriamente a produção de trigo. Causada pelo fungo Pyricularia oryzae Triticum, a brusone é favorecida por altas temperaturas e umidade.
Segundo estudo publicado na Nature Climate Change, a doença pode se expandir globalmente, afetando 13,5 milhões de hectares e reduzindo a produção mundial de trigo em até 13% até 2050.
Antes limitada a climas tropicais e subtropicais, a brusone está surgindo em áreas de clima mais frio e seco, como Bangladesh e o sul do Brasil. No estado do Rio Grande do Sul, surtos recentes foram associados ao aumento das temperaturas mínimas durante o inverno, criando condições ideais para o desenvolvimento do fungo. Esse cenário é preocupante, pois indica que a doença pode avançar para novas regiões, impactando drasticamente áreas agrícolas.
História
Historicamente, a brusone surgiu no trigo no Brasil em 1985, no Paraná. Rapidamente se espalhou pela América do Sul, com grandes surtos no Paraguai, Bolívia e Argentina, causando perdas de até 80%. Fora do continente, a doença foi registrada pela primeira vez em Bangladesh em 2016, com prejuízos acima de 30%. Desde então já chegou à África e ao Uruguai. A dispersão ocorre principalmente pelo vento e pelo comércio de grãos e sementes contaminadas, o que aumenta o risco de surtos em novos territórios.
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Projeções baseadas em modelos climáticos sugerem que, até 2050, a brusone pode atingir continentes inteiros, com exceção da Antártida. Países como Estados Unidos, França, Itália, China e Austrália estão entre os possíveis novos alvos da doença, o que pode comprometer a segurança alimentar global.
Iniciativas de melhoramento genético, controle químico e manejo agrícola vêm sendo desenvolvidas. Mas os especialistas afirmam que, diante do aquecimento global, soluções mais robustas e estratégias preventivas são necessárias.
Enfrentar a brusone será essencial para proteger o trigo, que é um dos alimentos mais consumidos no mundo, e para garantir a resiliência da produção agrícola em um cenário de mudanças climáticas.