Cientistas descreveram, nesta semana, o funcionamento de um dos mecanismos mais curiosos da natureza: como o pepino-do-diabo (Ecballium elaterium) lança suas sementes. A pesquisa, conduzida pela Universidade de Oxford e publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, utilizou experimentos práticos, filmagens de alta velocidade e modelagem matemática para solucionar o mistério.
Pepino-do-diabo ou pepino-explosivo
Conhecido também como pepino-explosivo, o Ecballium elaterium é uma planta comum na Europa e na região do Mediterrâneo. Sua fama vem do método único e violento de dispersão de sementes, que envolve um verdadeiro “disparo”.
Quando maduras, as frutas ovais do pepino se desprendem do caule e ejetam as sementes com alta pressão. O jato, rico em mucilagem — uma substância gelatinosa —, alcança velocidades de até 20 metros por segundo. As sementes podem ser lançadas a distâncias de até 10 metros, o que representa 250 vezes o comprimento do fruto. Esse processo ocorre em apenas 30 milissegundos.
Segredo por trás da pressão hidráulica
Chris Thorogood, diretor adjunto do Jardim Botânico de Oxford, explicou o mecanismo: “O fruto acumula fluido internamente, gerando uma grande pressão. Parte desse fluido é redirecionada para o caule, que se alonga, engrossa e endurece”. Ou seja, esse movimento altera a posição do fruto, que sai de uma postura vertical para um ângulo de 45°, ideal para o lançamento das sementes.
Além disso, diferentemente de outras plantas que utilizam energia elástica, como “estilingues naturais”, o pepino-do-diabo adota a pressão hidráulica para lançar suas sementes. Ao mesmo tempo, esse ajuste interno permite que o fruto acumule fluido suficiente para o disparo.
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Estratégia de sobrevivência
A estratégia do pepino-explosivo visa reduzir a competição entre as sementes e a planta-mãe. O objetivo é lançar as sementes longe o suficiente para evitar a concorrência, mas em locais favoráveis ao crescimento. “Embora não seja o mecanismo mais rápido ou de maior alcance da natureza, ele garante que as novas gerações cresçam em ambientes adequados”, afirmou Finn Box, coautor do estudo e pesquisador da Royal Society University na Universidade de Manchester.
Portanto, o estudo revelou a sofisticação de um mecanismo raro no reino vegetal e destacou a importância da dispersão eficiente de sementes para a sobrevivência da espécie.