O mel produzido por abelhas africanizadas (Apis mellifera L.) a partir da florada do açaizeiro apresenta altos níveis de compostos bioativos, com forte potencial antioxidante. A descoberta, resultado de um estudo publicado na revista científica Molecules, abre caminho para valorizar esse produto da biodiversidade amazônica.
A pesquisa, conduzida pela Embrapa Amazônia Oriental, Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA), comparou o mel de açaí com outros méis monoflorais, como os de aroeira (MG), cipó-uva (DF), timbó (RS) e mangue (PA). Os resultados revelaram que o mel de açaí supera em até quatro vezes a capacidade antioxidante do mel de aroeira, um dos mais valorizados no Brasil.
Propriedades funcionais
Segundo Daniel Santiago, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, os polifenóis são responsáveis pela elevada atividade antioxidante do mel de açaí. Esses compostos atuam no combate aos radicais livres e possuem propriedades anti-inflamatórias, anticancerígenas e cardioprotetoras.
Nilton Muto, professor da UFPA e coautor do estudo, destacou que a coloração escura do mel, variando de âmbar a quase negro, está diretamente ligada à alta concentração desses compostos bioativos. Além disso, o sabor diferenciado, com notas sutis de café, foi bem avaliado em análises sensoriais.
Potencial econômico e ambiental
Com a crescente demanda por açaí, produtores do Pará têm investido na polinização dirigida para aumentar a produtividade. Embora as abelhas sem ferrão sejam mais eficientes na polinização, o custo elevado das colmeias tem levado muitos agricultores a optar pelas abelhas africanizadas.
Apesar das limitações, as africanizadas têm um raio de ação maior, alcançando até 1.500 metros, o que favorece seu uso nas bordas das plantações. Segundo Santiago, ainda são necessários mais estudos para avaliar com precisão o impacto dessa espécie na polinização do açaizeiro.
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Perspectivas para a Amazônia
Atualmente, a produção de mel na Amazônia representa apenas 2% das 64 mil toneladas produzidas anualmente no Brasil, com o Pará respondendo por 1,5% desse total. No entanto, o estudo aponta que a apicultura pode ganhar força na região, impulsionada pela crescente valorização do mel de açaí.
A pesquisa faz parte do projeto Agrobio, financiado pelo Fundo Amazônia/BNDES, e envolve uma rede integrada de produtores, cientistas e estudantes. Sara Ferreira, primeira autora do artigo, acredita que a descoberta abre portas para o desenvolvimento de novos produtos a partir do mel amazônico.
Ou seja, com características únicas, o mel de açaí tem potencial para se tornar um diferencial competitivo no mercado nacional e internacional, reforçando a importância da preservação e uso sustentável da biodiversidade amazônica.