Pesquisadores descobriram que uma mutação genética pode ajudar o trigo a formar parcerias mais eficientes com fungos benéficos. Ou seja, essa interação permite às plantas extrair nutrientes do solo com maior eficácia, reduzindo a necessidade de fertilizantes sintéticos. A revista Nature já publicou a pesquisa.
Além disso, o estudo mostrou que a mutação, localizada no gene CNGC15, influencia as oscilações de cálcio nas raízes, que atraem micróbios úteis. Portanto, isso facilita a liberação de nutrientes presos no solo, potencializando a nutrição do trigo e outras culturas que venham a ser modificadas de forma semelhante.
Redução de fertilizantes beneficia o meio ambiente
Fertilizantes industriais, ricos em nitrogênio e fosfato, aumentam a produtividade agrícola, mas também geram poluição ambiental. O excesso de nutrientes pode contaminar águas subterrâneas e emitir gases de efeito estufa. A descoberta oferece uma alternativa sustentável ao estimular as plantas a utilizarem nutrientes de maneira mais natural, expandindo sua interação com micróbios do solo.
“O avanço é inovador e pode revolucionar a agricultura”, avalia Heike Sederoff, bióloga molecular da North Carolina State University. Cheng-Wu Liu, especialista da University of Science and Technology of China, destaca o potencial da mutação para uma produção agrícola mais sustentável.
Parcerias microbianas ampliadas
Plantas como ervilhas e feijões já mantêm relações benéficas com bactérias que fixam nitrogênio em suas raízes. Além disso, culturas como o trigo interagem com fungos que fornecem fosfato e outros nutrientes. No entanto, essas parcerias naturais são subutilizadas quando o solo é enriquecido com fertilizantes sintéticos.
A mutação identificada pelos cientistas aumenta a produção de flavonoides, compostos químicos que atraem micróbios. Em experimentos com trevo-barril (Medicago truncatula), plantas com a mutação apresentaram 10% mais conexões fúngicas e absorveram 20% mais nitrogênio nas folhas.
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Testes promissores com trigo
A equipe aplicou a mutação em dois tipos de trigo. Em testes de campo, as plantas mutantes formaram 20% mais conexões com fungos benéficos, mesmo em solos enriquecidos com fertilizantes. As folhas apresentaram 10% mais nitrogênio em relação ao carbono, indicando maior eficiência nutricional.
Os resultados são promissores para aumentar a produtividade de grãos enquanto reduzem o impacto ambiental. Segundo Giles Oldroyd, geneticista de plantas da Universidade de Cambridge, a mutação pode beneficiar diversas culturas agrícolas. “Essa abordagem tem o potencial de transformar a agricultura global.”
Sustentabilidade como futuro da produção agrícola
Com novos testes de campo, a expectativa é que a mutação genética permita colheitas mais nutritivas e economicamente viáveis. Além de oferecer vantagens aos agricultores, a técnica pode reduzir a dependência de fertilizantes químicos, beneficiando o meio ambiente e a saúde humana.