A técnica de cultura de tecidos, que permite a multiplicação de mudas in vitro, está revolucionando o cultivo do curauá na região amazônica. Essa abordagem tem mostrado resultados promissores para ampliar a produção dessa planta nativa, que possui fibras naturais de alto valor industrial. A Embrapa Amazônia Ocidental lidera os esforços de pesquisa em parceria com o governo do Amazonas e outras instituições.
A técnica permite produzir mudas com maior segurança e eficiência, oferecendo uma solução para atender à crescente demanda industrial. “O cultivo do curauá no estado do Amazonas ainda é pouco difundido, e existem poucos estudos relacionados à adubação e nutrição mineral da espécie”, destaca Felipe Padilha, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Agronomia Tropical da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Padilha explica que adaptou as recomendações de adubação utilizadas nos experimentos a partir de práticas do estado do Pará. As mudas, plantadas em agosto de 2022, apresentaram resultados variados. “O curauá branco se desenvolveu bem em campo, enquanto o curauá roxo teve dificuldades em solos de latossolo amarelo, exigindo estudos adicionais”, afirma.
O pesquisador Francisco Célio Chaves, da Embrapa, reforça que a técnica de cultura de tecidos é essencial para ampliar a produção. “Ela permite otimizar o cultivo e facilita a ampliação dos plantios, especialmente para quem deseja produzir e comercializar mudas ou fibras naturais”, explia Chaves.
Curauá: potencial econômico e sustentável
Conhecido por sua resistência e versatilidade, o curauá é uma alternativa promissora à fibra de vidro, com aplicações que vão desde carenagens automotivas até a substituição de plásticos em produtos industriais. “A fibra do curauá é tão durável quanto a fibra de vidro e pode ser usada até na produção têxtil, substituindo materiais como juta e malva”, comenta Claudimar Mendonça, produtor rural que participa de um projeto-piloto em Novo Remanso.
Mendonça, que cultiva um hectare com 12.500 plantas, destaca a importância do incentivo à produção local. “Acreditamos que o curauá vai agregar valor às famílias da região. A planta tem semelhanças com o abacaxi, o que facilita o cultivo em uma área onde a fruticultura já é forte”, afirma.
Projeto-Piloto focado em dados técnicos e científicos
Em 2024, o governo do Amazonas lançou um projeto-piloto na Comunidade Santo Antônio de Caxinauá, distrito de Novo Remanso, com o objetivo de validar tecnicamente a produção de fibras do curauá. A Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror) coordena o projeto, que inclui a participação do Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA), da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e de outras instituições.
“O principal objetivo é fornecer dados técnicos que possam ser utilizados pela indústria, especialmente no Polo Industrial de Manaus”, explica Chaves. A iniciativa visa estimular a geração de renda e emprego para agricultores da região, com uma perspectiva de substituir parcialmente materiais plásticos por fibras naturais.
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Apesar do potencial, a produção de curauá enfrenta desafios relacionados à falta de informações agronômicas específicas. “Poucos dados sobre a espécie estão disponíveis na literatura, especialmente no Amazonas. É essencial compreender como os nutrientes influenciam o crescimento e a qualidade das fibras”, afirma Padilha.
Estudos adicionais também buscam mapear o genoma do curauá, visando à criação de híbridos mais adaptados à região amazônica. “O crescimento vegetativo da planta depende de fatores ambientais e metabólicos, e essas características são essenciais para trabalhos futuros de melhoramento genético”, conclui Chaves.
Futuro promissor para o curauá
Com clima favorável e incentivos governamentais, o Amazonas tem condições ideais para liderar a produção de curauá no Brasil. “A validação agronômica da cultura é um passo essencial para fortalecer a agricultura local e criar novas oportunidades de mercado”, avalia Mendonça.
A técnica de cultura de tecidos não apenas facilita a expansão do cultivo, mas também promove uma produção mais sustentável, alinhada às demandas industriais por fibras naturais. O projeto destaca o papel da pesquisa científica em transformar recursos nativos em oportunidades econômicas e ambientais para a Amazônia.