Tecnologias digitais e Internet das Coisas (IoT) vão otimizar a certificação da sustentabilidade da cafeicultura familiar e mecanizada. Ou seja, a iniciativa beneficiará produtores do nordeste de São Paulo e do sul de Minas Gerais, regiões estratégicas na produção de café. A Embrapa Agricultura Digital lidera o projeto, que implantado ainda este ano com financiamento do Consórcio Pesquisa Café.
Dados para o processo de certificação
A pesquisadora Célia Grego, da Embrapa Agricultura Digital, explica que sensores IoT, aliados a levantamentos de campo, fornecerão dados detalhados sobre solo, água e planta. Em resumo, a equipe do projeto analisará esses dados com modelos estatísticos e geoestatísticos para aprimorar os processos de certificação da sustentabilidade. Portanto, o objetivo é agregar valor aos produtores rurais de pequeno e médio porte.
O projeto contemplará cafeicultores de Caconde (SP) e Paraguaçu (MG). Caconde faz parte dos dez Distritos Agrotecnológicos onde a Embrapa Agricultura Digital, com apoio da Fapesp, realiza pesquisas, desenvolve soluções e promove capacitações por meio do Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura Digital (Semear Digital).
A iniciativa, com duração prevista de dois anos, testará a tecnologia IoT para otimizar o manejo hídrico e integrar técnicas avançadas de Agricultura de Precisão (AP). Os pesquisadores também irão desenvolver um modelo de tokenização para garantir transparência e segurança dos dados sensíveis.
A equipe do projeto organizará os dados digitais auditáveis com base em conceitos em conceitos de Agricultura de Precisão para demonstrar a adoção de boas práticas no uso dos recursos naturais. “Os resultados obtidos serão repassados aos produtores para capacitação de agentes multiplicadores”, destaca o líder do projeto. A Embrapa Territorial e o Instituto Agronômico (IAC/SP) também apoiam a iniciativa.
Troca de experiências
A Fazenda Santa Cruz, no sul de Minas Gerais, tem 240 hectares de café certificados há 14 anos. A história da propriedade servirá de referência para os participantes do projeto. “A certificação é acessível para pequenas e médias propriedades e vai além do cumprimento de regras”, afirma a proprietária Josiane Moraes da Silva.
Segundo ela, a certificação melhora a gestão da fazenda ao estruturar treinamentos sobre defensivos e questões trabalhistas. “Uma saca de café certificada recebe um valor superior, garantindo retorno financeiro. O investimento na certificação se paga com esse diferencial”, ressalta.
Inovação na Agricultura de Precisão
O projeto utilizará resultados de pesquisas anteriores realizadas no sul de Minas Gerais, focadas na Agricultura de Precisão em café. Ao mesmo tempo, essas pesquisas, conduzidas pelo Consórcio Pesquisa Café e concluídas em 2024, contaram com a participação das fazendas Santa Cruz e Roselândia, com análise de três safras.
“Identificamos diferenças entre as áreas dentro dos talhões, mas elas são tratadas de forma uniforme”, explica Grego. Para o produtor da Fazenda Santa Cruz, essa variação precisa ser considerada no manejo. “Temperaturas elevadas na florada podem comprometer a produção. Monitorando o clima, podemos renovar a área correta”, destaca.
Além disso, o projeto também criará um banco de dados sobre solo, crescimento, produção e microclima, utilizando imagens de satélite e levantamentos de campo. Ou seja, as informações ficarão armazenadas no Repositório de Dados de Pesquisa da Embrapa (Redape/SGBD), com acesso restrito até a finalização das publicações.
A iniciativa tem apoio da Embrapa Territorial, Embrapa Instrumentação e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
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