A escalada no preço do café deve continuar nas próximas semanas. A previsão é da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), que atribui a alta às condições climáticas adversas e ao aumento da demanda global. Ao mesmo tempo, a colheita da nova safra, prevista para abril ou maio, pode ajudar a estabilizar o mercado.
Em geral, o consumo mundial de café segue em expansão, impulsionado pela entrada da China como novo mercado consumidor. Portanto, segundo a Abic, esse cenário deve manter os preços elevados por mais dois ou três meses. A estabilização pode ocorrer com a chegada da nova safra, mas uma queda significativa nos valores só é esperada a partir de 2026.
Mercado global sente impacto
Desde novembro do ano passado, o café registra valorização expressiva, tanto no Brasil quanto no mercado internacional. O país lidera as exportações globais, respondendo por quase 40% da produção mundial, seguido por Vietnã (17%) e Colômbia. Na Bolsa de Nova York, os contratos de café arábica atingiram recordes históricos. Nesta quarta-feira (5), a cotação bateu US$ 3,97 por libra-peso.
O presidente da Abic, Pavel Cardoso, destaca que a alta também reflete a participação crescente de fundos de investimento no setor. “Essa escalada uma hora vai parar, mas ainda não sabemos quando”, afirmou.
Safras de café afetadas pelo clima
A produção de café enfrenta dificuldades desde 2020. Apesar do recorde naquele ano, os ciclos seguintes foram marcados por perdas. Em 2021, uma forte geada comprometeu cerca de 20% da safra de arábica. No ano seguinte, a lavoura não conseguiu se recuperar. Em 2023, o El Niño trouxe estiagem prolongada e temperaturas elevadas. Já em 2024, o La Niña resultou em chuvas excessivas.
“Isso prejudica a lavoura”, explica Cardoso. A previsão é que a safra deste ano seja ligeiramente menor que a de 2023. O impacto acumulado dos eventos climáticos, somado ao aumento da demanda global, impulsiona a alta dos preços.
Custos elevados pressionam o setor
A indústria do café também enfrenta aumento expressivo nos custos. Segundo a Abic, os gastos com matéria-prima subiram mais de 200%, levando a repasses ao consumidor de aproximadamente 38%. Esse movimento se reflete diretamente nos preços da commodity nas bolsas internacionais.
“A oferta restrita pressiona o mercado. Com a chegada da nova safra, esperamos alguma estabilidade, mas a previsão para 2026 é mais otimista”, avalia Cardoso. A expectativa do setor é que a próxima colheita possa superar o recorde de 2020, elevando a oferta e reduzindo os preços.
Consumo e faturamento crescem
O consumo de café no Brasil cresceu 1,11% entre novembro de 2023 e outubro de 2024, de acordo com a Abic. O país é o segundo maior consumidor mundial da bebida, com 21,9 milhões de sacas em 2024, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
O faturamento da indústria de café torrado no mercado interno atingiu R$ 36,82 bilhões em 2023, um aumento de 60,85% em relação ao ano anterior. O segmento de cafés especiais teve reajuste de 9,8% no período. Além disso, as categorias Gourmet, Superior e Tradicional registraram altas de 16,17%, 34,38% e 39,36%, respectivamente. Cafés em cápsulas também ficaram mais caros, com aumento de 2,07%.
Nos últimos quatro anos, a matéria-prima subiu 224%, enquanto o preço do café no varejo aumentou 110%. Apenas no último ano, a alta foi de 37,4%, bem acima da inflação da cesta básica, que ficou em 2,7%.
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