Enquanto as mudanças climáticas ameaçam as plantações tradicionais de café, uma espécie rara e resistente, descoberta no Sudão do Sul, ganha destaque como alternativa para o futuro. O café Excelsa, nativo de regiões asiáticas, agora é cultivado em países como Congo, Uganda e Sudão do Sul. E chama a atenção por sua capacidade de prosperar em condições extremas como secas, calor intenso e ataques de pragas, características que o tornam uma aposta promissora em meio ao colapso de safras globais.
Com raízes profundas, folhas grossas e troncos robustos, o Excelsa sobrevive onde variedades como Arábica e Robusta falham. Enquanto o Brasil, maior produtor mundial, enfrenta queda de 12% na colheita este ano devido à seca, especialistas veem no Excelsa um potencial para mitigar perdas. Apesar de representar menos de 1% do mercado, seu cultivo avança em países como Índia, Vietnã e Sudão do Sul. Nesses países, várias comunidades redescobrem a planta como fonte de renda.
Revitalização econômica no Sudão do Sul
No estado de Equatoria Ocidental, agricultores veem no Excelsa uma chance de escapar da pobreza. Após três anos de cuidados, suas primeiras colheitas começam a florescer, com a promessa de gerar recursos para educação e sustento familiar. Empresas como a Equatoria Teak capacitam 1.500 produtores locais, fornecendo mudas e treinamento, enquanto preparam a primeira exportação de 7 toneladas para a Europa. Projeções indicam que, até 2027, o café pode injetar US$ 2 milhões na economia sul-sudanesa, com interesse de gigantes como a Nespresso.
O Excelsa oferece um perfil sensorial único: doce, com notas de chocolate, frutas escuras e avelã, menos amargo que o Arábica e mais complexo que o Robusta. Ainda assim, seu alcance global depende de escalonamento. Para atrair grandes compradores, a produção precisa triplicar — um desafio em um país marcado por instabilidade política e infraestrutura precária.
Obstáculos e esperança
A falta de estradas e a violência local complicam o escoamento. Um caminhão leva 3.000 km até o porto queniano, com custos cinco vezes superiores aos de países vizinhos. Conflitos recentes em Equatoria Ocidental, incluindo bloqueios de estradas e deslocamentos, reforçam riscos para investidores. Além disso, incêndios criminosos e práticas agrícolas tradicionais ameaçam plantações, como no caso de Elia Box, que perdeu metade de sua safra para as chamas em fevereiro.
Apesar dos desafios, o Excelsa simboliza esperança para comunidades que dependem de ajuda externa. Líderes locais enfatizam a necessidade de uma mentalidade de longo prazo e paz duradoura para que o café floresça. Enquanto o governo sul-sudanês promete reabilitar plantações e construir uma escola agrícola, agricultores seguem apostando no grão. Não apenas como cultivo, mas como legado para as próximas gerações.
Nesse cenário, o Excelsa não é apenas uma planta, mas um testemunho de resiliência — tanto climática quanto humana — em um país que busca renascer através de suas raízes.
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