O ácaro-rajado (Tetranychus urticae) emergiu como um dos principais desafios na cultura do algodão em Mato Grosso, causando perdas de até 20% nas lavouras. O alerta vem de Jacob Crosariol Netto, pesquisador do Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMA), que destaca a crescente relevância dessa praga, antes considerada secundária.
“Há cinco anos, o ácaro-rajado aparecia principalmente no final do ciclo do algodão, em condições secas. Hoje, ele está presente durante todo o ciclo, e se não for controlado adequadamente, pode causar perdas severas, chegando a mais de 1.000 kg de fibra por hectare em uma área com potencial de produção de 5.200 kg/ha”, explica Crosariol Netto.
Uso excessivo de defensivos como agravante
A intensificação do problema, especialmente nas regiões de Campo Verde e Primavera do Leste, está associada ao uso excessivo de fungicidas e inseticidas de baixa seletividade, conforme apontado por estudos de campo. “Esses produtos acabam eliminando inimigos naturais do ácaro, acelerando seu ciclo reprodutivo e favorecendo sua multiplicação descontrolada”, afirma o pesquisador.
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O desequilíbrio ecológico resultante desse manejo incorreto está tornando o controle da praga mais difícil e custoso.
Cresce a necessidade de acaricidas
A resposta a essa nova realidade é o aumento no uso de acaricidas. “Antes, aplicávamos esses produtos duas ou três vezes por safra. Hoje, dependendo da região, são necessárias até 12 aplicações”, revela Crosariol Netto. Ele coordenou ensaios com o acaricida fenpiroximato, recentemente registrado no Brasil pela Sipcam Nichino. O produto demonstrou eficácia superior a 80% no controle do ácaro-rajado, quando aplicado corretamente.
“Para ser eficaz, é preciso aplicar o acaricida no momento certo, com 10% das plantas infestadas. Além disso, a tecnologia de aplicação é crucial, já que o ácaro-rajado se alimenta na parte inferior das folhas. Uma boa distribuição de gotas é essencial para atingir o alvo”, alerta o especialista.
Monitoramento e manejo integrado são essenciais
Crosariol Netto destaca a importância de monitoramento constante das lavouras e do uso de alternativas que previnam a infestação. Ele defende a escolha de cultivares com maior sanidade, reduzindo a necessidade de fungicidas, o que favorece o equilíbrio dos inimigos naturais da praga. “O ácaro-rajado é uma ameaça crescente, mas com um manejo estruturado, incluindo a rotação de ativos, é possível minimizar os danos e manter a produtividade do algodão”, conclui o pesquisador.
A rotação de ingredientes ativos é essencial para evitar a seleção de populações resistentes, uma vez que o ciclo de vida da praga é rápido, e aplicações repetidas do mesmo produto podem reduzir a eficácia do controle químico.