Pesquisas apontam que os baculovírus têm se destacado como uma ferramenta crucial para enfrentar a resistência de lagartas a biotecnologias e inseticidas químicos.
Estudos conduzidos por pesquisadores de instituições como a Esalq/USP e as universidades federais de Pelotas e Santa Maria (RS) destacam a eficiência dos bioinseticidas à base de baculovírus no controle de pragas.
Com sua atuação biológica, esses inseticidas vêm se mostrando uma solução eficiente em meio à crescente resistência das lagartas aos produtos convencionais.
Avanços e evidências científicas
Celso Omoto, especialista da Esalq/USP, explica que testes realizados com as espécies Spodoptera frugiperda e Helicoverpa armigera demonstraram a suscetibilidade dessas lagartas aos baculovírus, sem indicativos de resistência cruzada com inseticidas químicos.
Omoto também destaca que esses bioinseticidas, classificados no Grupo 31 pelo IRAC Internacional, têm um modo de ação inédito, o que favorece sua aplicação em estratégias de manejo integrado de pragas (MIP).
Essa abordagem combina múltiplas táticas para garantir um controle mais robusto das populações de lagartas.
Oderlei Bernardi, da Universidade Federal de Santa Maria, aponta que a resistência de lagartas aos inseticidas químicos em plantações de soja continua a crescer.
Seus estudos indicam que os baculovírus representam uma alternativa viável, devido ao seu mecanismo de ação diferenciado.
Além disso, há evidências de que esses produtos intensificam o controle de pragas quando aplicados em cultivos de soja transgênica, como a soja ‘Intacta’.
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Na Universidade Federal de Pelotas, o entomologista Daniel Bernardi também reforça a importância dos baculovírus.
Segundo ele, o aumento da resistência de Spodoptera frugiperda a inseticidas químicos e a biotecnologias têm tornado o manejo dessa praga no milho um desafio crescente. “Os baculovírus se destacam como uma das melhores alternativas biológicas para lidar com essa resistência”, observa Bernardi.
Impacto e expansão no mercado
A vice-presidente de Pesquisa & Desenvolvimento da AgBiTech, Paula Marçon, ressalta que os baculovírus são não apenas sustentáveis do ponto de vista ambiental. Eles são essenciais para a gestão das pragas em grandes cultivos.
“Além de suprimir populações, os baculovírus promovem epizootias, prolongando o controle de lagartas a campo e melhorando a eficácia de biotecnologias e inseticidas químicos, cuja eficiência tem sido comprometida pela resistência”, explica Marçon.
Dados da consultoria Kynetec revelam que a adesão aos bioinseticidas de baculovírus aumentou na última safra. Em 59% das áreas tratadas de soja, eles superaram o uso dos produtos à base de Bacillus thuringiensis.
A AgBiTech, principal fornecedora desses biolagarticidas, viu seu alcance expandir para mais de cinco milhões de hectares em lavouras brasileiras.
“Nosso objetivo é fornecer alternativas que ajudem a manter a rentabilidade do produtor e a sustentabilidade do agronegócio”, conclui Pedro Marcellino, diretor de marketing da empresa.
O crescente uso de baculovírus na agricultura brasileira reflete uma mudança de estratégia para lidar com a resistência de pragas, reforçando a importância dessas soluções biológicas no manejo integrado e sustentável.
Mas o que é um baculovírus?
Baculovírus são vírus que infectam insetos, principalmente lagartas, sendo utilizados amplamente como bioinseticidas no controle de pragas agrícolas.
Eles pertencem à família Baculoviridae e se destacam por sua especificidade, afetando apenas determinados insetos sem causar danos a outros organismos.
Isso incluí humanos, plantas e animais. Esse tipo de vírus é caracterizado por possuir um DNA de fita dupla e ser encapsulado em proteínas que facilitam sua dispersão e eficácia no ambiente.
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No controle biológico, os baculovírus agem ao infectar e matar lagartas que atacam culturas agrícolas, como milho e soja.
A infecção ocorre quando as lagartas consomem folhas ou partes da planta contaminadas com o vírus. Após serem ingeridos, os vírus se multiplicam dentro do corpo das lagartas, provocando sua morte em alguns dias.
Além de serem altamente eficazes, eles apresentam a vantagem de serem ambientalmente sustentáveis, pois são inofensivos a inimigos naturais e outros polinizadores.
Esses vírus também são importantes em programas de manejo integrado de pragas (MIP), onde são utilizados junto com outras estratégias, como biotecnologias e inseticidas químicos. A ideia é ,asssim, garantir um controle mais eficaz e sustentável das pragas.