O governo chinês anunciou, nesta sexta-feira (27), o início de uma investigação sobre as importações de carne bovina, justificando a medida pelo excesso de oferta no mercado interno, que tem pressionado os preços da proteína. Segundo o Ministério do Comércio da China, a análise abrangerá as importações realizadas entre 1º de janeiro de 2019 e 30 de junho de 2024 e terá duração prevista de oito meses.
A Associação Chinesa de Agricultura Animal (CAAA) solicitou a investigação, alegando que o aumento significativo nas importações de carne bovina — que cresceram 64,93% entre 2019 e 2023 e mais do que dobraram (106,28%) no primeiro semestre de 2024 em relação ao mesmo período de 2019 — tem causado danos à indústria local. A participação das importações na produção total da China subiu para 43,87%, comparado a 24,87% em 2019, evidenciando a crescente dependência do país em relação à carne bovina importada.
Impacto nas exportações brasileiras
A carne bovina brasileira é um dos principais produtos exportados para a China, com mais de 1 milhão de toneladas enviadas em 2024, representando um aumento de 12,7% em relação ao ano anterior. O governo brasileiro, em conjunto com o setor exportador, planeja demonstrar que as exportações brasileiras não prejudicam a indústria chinesa e são essenciais para complementar a produção local.
Leia mais:
+ Agro em Campo: Lei que regulamenta produção de bioinsumos no Brasil é sancionada
+ Agro em Campo: Podridão da soja afeta lavouras no Médio Norte de MT
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) destacou a importância da carne bovina brasileira para o mercado chinês e reafirmou seu compromisso em cooperar com as autoridades durante o processo investigativo. “Estamos dispostos a fornecer quaisquer esclarecimentos e participar ativamente do processo”, afirmou a entidade.
A investigação ocorre em um momento em que os preços da carne na China caíram para os níveis mais baixos em cinco anos. Isso ocorre devido à desaceleração econômica e à diminuição do consumo. A maioria das fazendas de gado está enfrentando prejuízos. E os preços médios da carne bovina no atacado caíram cerca de 22% nos últimos dois anos.
Governo Brasileiro reage
O governo brasileiro afirmou em nota que tomou conhecimento da comunicação do Ministério do Comércio da China. Em resposta à investigação, em colaboração com o setor exportador, se comprometeu a demonstrar que a carne bovina brasileira não causa prejuízos à indústria chinesa. “Reafirmamos nosso compromisso em defender os interesses do agronegócio brasileiro, respeitando as decisões soberanas do nosso principal parceiro comercial”, afirmou um representante do governo.
Leia a nota oficial aqui.
Contexto econômico
Além das questões relacionadas às importações, a economia chinesa enfrenta desafios com a desaceleração do crescimento e uma demanda interna reduzida. Os preços da carne bovina na China caíram para os níveis mais baixos em cinco anos, refletindo um mercado saturado e uma diminuição no consumo. O governo chinês já havia solicitado aos pecuaristas que limitassem e otimizassem seus rebanhos para conter a queda nos preços.
A investigação sobre as importações de carne bovina pela China destaca as complexas relações comerciais entre os dois países. E também os desafios enfrentados pelo setor agrícola brasileiro. Com um histórico de parcerias sólidas, a expectativa é que ambas as partes busquem soluções que beneficiem suas economias. Garantindo assim a continuidade do comércio bilateral.
Enquanto o Brasil busca defender seus interesses no mercado internacional, a China enfrenta desafios internos que podem influenciar suas políticas comerciais. O desenrolar dessa situação será monitorado atentamente por analistas e produtores do setor.