A recente valorização do dólar, que atingiu seu nível mais alto frente ao real em cerca de 18 meses, está influenciando o mercado de milho em Mato Grosso, o principal estado produtor do grão no Brasil. Este movimento ocorre durante uma colheita acelerada da segunda safra, antecipando o período tradicional de exportações mais intensas.
Especialistas do setor acreditam que, apesar da alta do dólar e da antecipação da colheita, os embarques de milho brasileiro não devem superar as expectativas em junho. Analistas preveem que o aumento significativo nas exportações deve ocorrer entre julho e agosto, quando os portos mudam seu foco da soja para o milho.
O dólar à vista tem operado acima de R$5,40, um aumento significativo em relação aos R$5,2510 do fechamento do mês anterior. No acumulado de junho, a valorização já supera 3%, tornando o milho brasileiro mais competitivo no mercado internacional.
Colheita avança
A colheita da segunda safra de milho no centro-sul do Brasil atingiu 21% da área cultivada até a última quinta-feira, um avanço considerável em comparação com os 5% registrados no mesmo período do ano passado, conforme dados da consultoria AgRural. Mato Grosso e Paraná lideram o ritmo de colheita, embora se espere uma queda no volume total comparado à temporada anterior, devido a uma redução na área plantada e menores produtividades.
A analista da AgRural, Daniele Siqueira, observa um aumento na movimentação do mercado de milho devido ao dólar alto. Os preços da safrinha, com entrega a partir de julho de 2024, têm subido. Em Sorriso (MT), a saca para entrega em julho fechou a sexta-feira cotada a R$39,00, contra R$36,00 na mínima dos últimos 30 dias. Embora a alta nos preços seja modesta, ela ocorre em um período tradicionalmente negativo devido à colheita. Siqueira acredita que este movimento provavelmente resultará em um volume de exportação mais significativo em julho.
Paulo Molinari, da consultoria Safras & Mercado, enfatiza que o dólar firme tem facilitado mais negócios, especialmente em Mato Grosso. No entanto, ele ressalta que isso não implica um aumento imediato nas exportações. A demanda para milho brasileiro está mais acelerada apenas para agosto em diante, com junho e julho ainda devendo ser fracos em embarques.
Expectativas de exportação
Frederico Humberg, CEO da Agribrasil, prevê que o Brasil exporte 45 milhões de toneladas de milho em 2024. Número acima da projeção de 33,5 milhões de toneladas feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Ainda abaixo das cerca de 55 milhões de toneladas exportadas no ano passado, quando os embarques atingiram recorde. Apesar das expectativas de um volume de exportação acima das projeções oficiais, Humberg não acredita que a temporada de exportações de milho começará antes do previsto. Ele acredita que a demanda externa pelo milho brasileiro tende a ganhar força a partir de agosto, especialmente com a diminuição das vendas da Argentina.
O cenário atual reforça a importância da vigilância contínua sobre as variações cambiais e seus impactos nas exportações agrícolas, fundamentais para a economia brasileira.