O mais recente mapeamento do projeto TerraClass indica a crescente expansão da agricultura nas áreas desflorestadas da Amazônia e Cerrado, substituindo pastagens por cultivos e intensificando a produção com múltiplas safras anuais. Os novos dados, referentes a 2018, 2020 e 2022, foram divulgados nesta quinta-feira (01/08), em Brasília, pela Embrapa e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em um evento que contou com a presença dos ministros da Agricultura e Pecuária (Mapa) e de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Desde 2008, o TerraClass mapeia a cobertura e uso da terra na Amazônia, expandindo seu escopo para o Cerrado posteriormente. O projeto analisa áreas desflorestadas identificadas pelo programa Prodes do Inpe, destacando a vegetação secundária, culturas agrícolas, pastagens e áreas urbanas. Através do GeoPortal TerraClass, é possível acompanhar as mudanças ao longo do tempo e entender os fatores que influenciam o desflorestamento. “Queremos fornecer dados detalhados ao Estado Brasileiro sobre os biomas que representam mais de 70% do território nacional”, explica Júlio Esquerdo, pesquisador da Embrapa e coordenador do projeto.
Agricultura avança sobre pastagens
Os dados mostram que a agricultura anual nos biomas Amazônia e Cerrado aumentou 22% entre 2018 e 2022. A maior parte desse crescimento, 94%, ocorreu em áreas anteriormente utilizadas para agropecuária, principalmente pastagens. Além disso, apenas 1% da expansão atingiu áreas de vegetação natural primária e secundária. “Isso demonstra que a agricultura está avançando sobre áreas já desmatadas, reduzindo a necessidade de desmatar novas áreas naturais”, ressalta Esquerdo.
Apesar da expansão agrícola, a conversão de vegetação natural em pastagens continua a ser a principal causa do desmatamento. No entanto, há uma quantidade significativa de áreas em regeneração que permanecem estáveis nos biomas. Na Amazônia, as áreas de vegetação secundária representam cerca de 20% das áreas desmatadas ao longo da série histórica.
TerraClass Brasil e avanços tecnológicos
A Embrapa e o Inpe planejam ampliar o mapeamento para todos os biomas brasileiros com o projeto TerraClass Brasil. Silvia Massruhá, presidente da Embrapa, enfatiza a importância de transformar o TerraClass em um programa nacional permanente. Clezio Marcos De Nardin, diretor do Inpe, destaca o desenvolvimento de novos satélites e tecnologias que fortalecem o monitoramento ambiental. “Estamos desenvolvendo satélites menores e mais baratos para monitorar a Amazônia, o que contribuirá para os avanços do TerraClass”, afirma.
Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, ressalta a importância de alinhar a agricultura à preservação ambiental. “O TerraClass será essencial para direcionar políticas públicas que equilibrem produção e conservação”, completa. A ministra Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia, reforça a necessidade de integrar sustentabilidade e desenvolvimento econômico para conter o desmatamento.
Intensificação agrícola e regeneração da vegetação
O mapeamento do TerraClass também revela a intensificação da produção agrícola na Amazônia e no Cerrado. Entre 2018 e 2022, a área destinada à agricultura temporária com mais de um ciclo anual aumentou 50%, ocupando principalmente pastagens. No Cerrado, a agricultura temporária expandiu 17% no mesmo período, destacando a intensificação agrícola no bioma.
Além disso, a regeneração da vegetação natural também chama a atenção. Na Amazônia, cerca de 169 mil km² da vegetação secundária cobriam o bioma até 2022, com 31% dessa área em regeneração há pelo menos 14 anos. Em contrapartida, no Cerrado a vegetação natural secundária mapeada corresponde a 4% do bioma, com mais da metade dessa área em regeneração há quatro anos.
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Inovações tecnológicas impulsionam o TerraClass
O TerraClass utiliza tecnologias avançadas para aprimorar seus mapeamentos. Projetos como o Brazil Data Cube e o pacote SITS, desenvolvidos pelo Inpe, permitem a análise de grandes volumes de imagens de satélite. “Essas inovações nos permitem usar técnicas de ponta na classificação da cobertura e uso da terra, com algoritmos de inteligência artificial”, destaca Karine Ferreira, coordenadora do Brazil Data Cube.
Os novos mapeamentos diferenciam lavouras temporárias de grãos e fibras com base em seu nível de intensificação agrícola, e também incluem o mapeamento de culturas perenes, como cacau e café por exemplo, no bioma Amazônia.
Disponibilidade de dados no GeoPortal
Todos os mapas da série histórica do TerraClass para os biomas Amazônia e Cerrado estão disponíveis no GeoPortal TerraClass. Em resumo, essa plataforma digital permite acesso aos dados originais e ferramentas para análise da dinâmica territorial dos dois biomas ao longo do tempo.
O TerraClass Cerrado faz parte do projeto FIP Paisagens Rurais, financiado pelo Banco Mundial, e envolve diversas instituições parceiras, como o Serviço Florestal Brasileiro e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural.