Cem mil oliveiras estão sendo arrancadas no sul da Espanha para a instalação de usinas solares e eólicas, desalojando cerca de 100 agricultores em Jaén, região conhecida como a “capital mundial do azeite”. O governo regional da Andaluzia utiliza uma lei da era Franco (1954) para expropriações forçadas, enquanto a empresa de energia verde Greenalia planeja ocupar 900 hectares com painéis solares.
Conflito entre energia limpa e tradição secular
Os municípios de Lopera, Arjona e Marmolejo enfrentam os maiores impactos, com a remoção de oliveiras equivalente a 100 campos de futebol, segundo a plataforma de defesa North Campiña. Até agora, autoridades destruíram 5 mil árvores, enquanto agricultores protestam contra o que chamam de “extorsão”.
“Ou vendemos ou somos expropriados. Se for expropriado, será em condições desvantajosas”, denuncia Rafael Alcalá, produtor de Jaén que pediu anonimato. A plataforma North Campiña entrou com ação contra a Greenalia por supostos crimes ambientais.
Impacto econômico e êxodo rural
Juan Campos, 67, herdou um olival de cinco hectares do pai e teme perder sua renda anual de €108 mil – equivalente a 12 mil litros de azeite vendidos a €9 cada. “Minha família não chegará ao fim do mês se nos expropriarem”, desabafa. Francisco Jesús Sevilla Duque, vereador de Lopera, calcula perdas salariais de €950 mil por ano em vilarejos afetados.
A Greenalia oferece contratos de arrendamento de 30 anos com pagamento anual de €6 mil, totalizando €180 mil – valor considerado irrisório pelos agricultores. Um contrato de 2018, obtido pelo The Telegraph, revelou que a empresa alugou terras a €1.000 por hectare e revendeu a fundos abutre por €25 mil.
Leis aceleram projetos, mas ampliam riscos
A Junta de Andalucía aprovou em 2021 uma lei que equipara usinas solares a cultivos agrícolas, reduzindo burocracia para projetos de até 50 megawatts. Ambientalistas acusam a Greenalia de fragmentar iniciativas para evitar fiscalização rigorosa do governo espanhol, exigida em empreendimentos maiores.
“A Greenalia recebeu €97 milhões da gestora australiana Macquarie para expandir energia renovável na Espanha”, lembra Campos. “Essas empresas não trazem empregos, trazem miséria.”
Crise demográfica e herança ameaçada
A Andaluzia produz um terço do azeite espanhol e 10% do consumo global, mas 90% de seus municípios enfrentam risco de despovoamento, segundo o jornal Sur. “Meus filhos terão de deixar a vila sem os olivais”, lamenta Campos.
Especialistas como Lawrence Susskind, urbanista do MIT, defendem diálogo: “Não se pode sacrificar alguns pelo benefício de muitos. Deve haver locais alternativos na Espanha que não destruam oliveiras”.
Greenalia nega acusações
A empresa negou as alegações em nota, classificando-as como “falsas e motivadas por oposição política”. Afirmou ainda que 96,3% dos proprietários aceitaram arrendamentos voluntários e que a área total do projeto é de 402,29 hectares – não 900, como alegam os agricultores.
Enquanto isso, os produtores seguem cuidando das terras em resistência. “Na Espanha, a propriedade privada não é sagrada. Fomos abandonados pelos políticos”, descreve Alcalá.
A Junta de Andalucía e o governo espanhol não comentaram o caso.
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