Pela primeira vez na história, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e se consolidou como o maior exportador de algodão do mundo, segundo dados oficiais divulgados nesta semana pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Ministério da Agricultura.
Com uma produção recorde de 3,5 milhões de toneladas na safra 2023/2024, o país desbancou os norte-americanos, que lideravam o ranking há mais de duas décadas. A qualidade superior da fibra brasileira tem atraído a atenção de gigantes globais da indústria têxtil, consolidando o algodão nacional como um dos mais competitivos do mercado internacional.
Crescimento histórico e fatores de sucesso
A produção brasileira de algodão registrou um salto de 25% em relação à safra anterior, impulsionada pelo aumento da área plantada em estados como Mato Grosso, Bahia e Goiás — responsáveis por 90% da colheita nacional. Tecnologia de ponta, práticas agrícolas sustentáveis e condições climáticas favoráveis foram determinantes para o resultado. De acordo com o Ministério da Agricultura, o país destinou 1,8 milhão de hectares ao cultivo, com produtividade média de 1.950 kg por hectare, uma das mais altas do mundo.
Investimos em pesquisa, manejo integrado e certificações que garantem rastreabilidade e baixo impacto ambiental. Isso agrega valor ao nosso produto”, destacou Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, em comunicado oficial.
Qualidade que conquista o mercado global
A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) reforça que a fibra brasileira possui classificação premium, com índice de impurezas abaixo de 2%. Um padrão superior ao exigido por compradores de países como China, Bangladesh e Vietnã, principais destinos das exportações. A demanda crescente reflete-se nos números: as vendas externas atingiram 2,7 milhões de toneladas nesta safra, gerando uma receita de US$ 5,8 bilhões, alta de 32% em relação a 2022.
“O algodão do Brasil é sinônimo de tecnologia e sustentabilidade. Estamos suprindo a demanda por matérias-primas de alta performance para marcas de luxo e fast fashion”, afirmou Alexandre Schenkel, presidente da Abrapa.
Desafios e oportunidades no cenário internacional
A ascensão brasileira ocorre em um momento de retração dos EUA, que enfrentaram secas severas no Texas, maior estado produtor norte-americano. Enquanto os americanos projetam exportar 2,4 milhões de toneladas em 2024, o Brasil amplia sua participação em mercados estratégicos, como Indonésia, Paquistão e Turquia.
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Especialistas alertam, porém, para desafios logísticos, como custos de frete e infraestrutura portuária, que podem impactar a competitividade. Para mitigar riscos, o governo anunciou parcerias para expandir ferrovias e hidrovias, além de incentivos à industrialização local da fibra.
Sustentabilidade como diferencial competitivo
Com 84% da produção certificada por programas como o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), o setor reforça seu compromisso com critérios ESG (Ambiental, Social e Governança), atraindo investidores e consumidores conscientes. A adoção de sistemas de irrigação eficientes e a recuperação de pastagens degradadas para o plantio têm reduzido a pressão sobre biomas como o Cerrado.
A expectativa é que o Brasil mantenha a liderança na próxima safra, com projeções de aumento de 10% na área cultivada. “Estamos construindo uma trajetória sólida, baseada em inovação e responsabilidade. O mundo reconhece nosso potencial”, concluiu Schenkel.
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