A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) elegeu o melhoramento genético de raízes como estratégia-chave para impulsionar a conservação do solo e da água no país. A iniciativa, proposta pelo Grupo de Trabalho em Conservação e Manejo do Solo e da Água, visa desenvolver plantas com sistemas radiculares mais densos e profundos. Desta forma, capazes de prevenir erosões, aumentar a infiltração de água e garantir maior resiliência às mudanças climáticas.
De acordo com o pesquisador José Denardin, coordenador do GT e especialista da Embrapa Trigo, raízes robustas são fundamentais para estabilizar a estrutura do solo e promover atividade biológica. “Elas criam poros contínuos que facilitam o fluxo de nutrientes, água e ar, essenciais para a produtividade agrícola”, explica. O estudo destaca que o foco está em gramíneas de verão, como milho e sorgo. Cujas raízes podem ser integradas a culturas de grãos e fibras em sistemas de consórcio.
A técnica, alinhada ao Sistema Plantio Direto (SPD) – que já cobre entre 33 e 39 milhões de hectares no Brasil –, reduz a necessidade de revolvimento do solo, preserva matéria orgânica e minimiza emissões de carbono. “Essas raízes são a base para uma agricultura multifuncional, que equilibra produtividade e sustentabilidade”, reforça Denardin.
Tecnologia e monitoramento: novos indicadores para o agro brasileiro
Além do avanço genético, a Embrapa aposta em sensoriamento remoto e indicadores socioeconômicos de baixo custo para monitorar práticas sustentáveis. “Usamos satélites para rastrear adoção de SPD e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Facilitando, assim, a criação de seguros mais acessíveis e incentivos financeiros para produtores”, afirma Clenio Pillon, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa.
Atualmente, o Brasil conta com 15 milhões de hectares sob sistemas ILPF, modelo que recupera pastagens degradadas e reduz emissões de gases de efeito estufa. A meta é expandir essa área, impulsionada pelo Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), instituído em dezembro de 2023.
Da lei à lavoura: marco jurídico e histórico
O relatório do GT resgata a trajetória do conservacionismo no Brasil. Iniciando desde a criação da Embrapa nos anos 1970 até as leis 9.279 (Propriedade Industrial) e 9.456 (Proteção de Cultivares), que fortaleceram a pesquisa agropecuária na década de 1990. “Hoje, combinamos inovação tecnológica com políticas públicas para garantir segurança alimentar e descarbonização”, destaca Pillon.
Transferência de tecnologia: conectando ciência e campo
Para acelerar a adoção de práticas sustentáveis, a Embrapa reforça investimentos em plataformas digitais e inovação aberta. “Vamos além de dias de campo: integramos dados, conectamos produtores e democratizamos o acesso ao conhecimento”, explica o diretor. Portanto, a meta é garantir que tecnologias como o SPD e a ILPF cheguem a pequenos e médios agricultores. Ampliando, assim, a rastreabilidade e a saudabilidade dos alimentos.
Com a demanda global por alimentos sustentáveis, o Brasil se consolida como líder em agricultura de baixo carbono. Para Denardin, o próximo passo é “desenvolver cultivares adaptadas a diferentes biomas, garantindo que a ciência continue a servir à sociedade”. Enquanto isso, o GT segue como base para o planejamento estratégico da Embrapa, alinhado a metas como resiliência climática e soberania alimentar.
Leia mais:
+ Agro em Campo: Cimeira: Brasil e Portugal assinam memorando para promoção do vinho
+ Agro em Campo: Epagri pesquisa uso do bagaço de maçã na pecuária de corte