Em meio a araucárias, imbuias e canelas, a erva-mate cresce vigorosa, beneficiando-se da sombra da floresta. Essa é a realidade de Eurico Rocha, agricultor de Ponte Serrada (SC), que mantém 12 hectares de agrofloresta seguindo uma tradição iniciada por seu avô. Sem usar agrotóxicos e apenas com adubação orgânica, ele colhe até 15 toneladas por hectare a cada dois anos e meio – um exemplo de como a produção sustentável pode ser lucrativa.
A cena se repete em diversas propriedades rurais de Santa Catarina, onde um terço da erva-mate é cultivada em sistemas agroflorestais. O estado, que responde por 20% da produção nacional, colheu 130 mil toneladas em 2023, movimentando R$ 176 milhões. Além de ser a base do tradicional chimarrão, a erva-mate ganha espaço em chás, sucos e até cosméticos, sustentando milhares de famílias.
Por que a erva-mate em agroflorestas?
A Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SC) tem sido peça-chave no fomento a esse sistema, que alia produtividade e conservação ambiental. Segundo Paulo Alfonso Floss, pesquisador da Epagri, a erva-mate é uma planta nativa que se adapta perfeitamente ao clima e solo da região, proporcionando:
- Melhor qualidade da folha (mais verde, doce e com maior teor de cafeína)
- Proteção do solo e da água
- Redução de pragas e doenças (devido ao equilíbrio ecológico)
- Renda complementar (já que outras espécies, como a araucária, também geram lucro)
O diferencial do planalto norte
A região do Planalto Norte Catarinense se destaca na produção de erva-mate em caívas – sistemas agroflorestais que mantêm apenas árvores nativas, sem espécies exóticas ou agrotóxicos. O resultado é um produto mais doce, menos amargo e com folhas mais nutritivas.

Essa singularidade rendeu à erva-mate da região o selo de Indicação Geográfica (IG) em 2022, concedido pelo INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). A certificação abrange 12 municípios e valoriza a produção local, abrindo portas para mercados premium e turismo rural.
O trabalho da Epagri
Há mais de 40 anos, a Epagri investe em pesquisas para fortalecer a cadeia produtiva da erva-mate. Entre as principais contribuições estão:
- Primeiro pacote tecnológico para erva-mate no Brasil
- Lançamento do cultivar SCSBRS Caa rari (em parceria com a Embrapa)
- Desenvolvimento de novas variedades, incluindo uma para cultivo a pleno sol (a ser lançada em 2026)

Além disso, a Epagri orienta produtores sobre:
- Manejo ideal (poda, adubação e controle de pragas)
- Sombreamento correto (recomendando 50 a 100 araucárias por hectare)
- Capacitação técnica (em 2024, mais de 1.300 produtores foram atendidos)
Histórias de sucesso
Eurico Rocha é um dos exemplos de como a assistência técnica transforma vidas. Com mais de 20 certificados de cursos da Epagri, ele não só melhorou sua produção como se tornou consultor ambiental. “Os cursos vão muito além da técnica – abrem a mente do agricultor. Hoje, sou empreendedor graças a esse conhecimento.”

Outros agricultores, como os de Passos Maia e Vargeão, também relatam aumento de produtividade após aplicarem as técnicas aprendidas.
A tendência é que mais produtores migrem para sistemas agroflorestais, já que a erva-mate sombreada tem maior valor de mercado. Além disso, a Indicação Geográfica e a demanda por produtos sustentáveis impulsionam novos negócios.
Santa Catarina mostra que é possível produzir com qualidade, gerar renda e preservar a floresta – um modelo que pode inspirar todo o Brasil.
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