Pesquisadores do Projeto Mangues da Amazônia aplicam técnicas genéticas de ponta para recuperar a maior faixa contínua de manguezal do planeta,. Ela está localizada no nordeste do Pará. A iniciativa é inovadora, e integra ciência avançada e saberes tradicionais das comunidades locais. E visa o reflorestamento sustentável de áreas degradadas, fortalecendo a conservação desse ecossistema vital para o equilíbrio ambiental e a economia regional.
O diferencial do projeto está no mapeamento da variabilidade genética das espécies nativas — Rhizophora mangle (mangue-vermelho), Avicennia germinans (mangue-preto) e Laguncularia racemosa (mangue-branco). Por meio da coleta e análise de DNA das plantas em 12 quadrantes da península de Ajuruteua, em Bragança (PA), os pesquisadores identificam as áreas com maior diversidade genética. Essa seleção estratégica permite utilizar sementes com maior capacidade de adaptação e resistência a impactos ambientais e climáticos. E aumenta a produtividade e a resiliência das novas gerações de mangues.
“Quanto maior a variabilidade genética, maior a capacidade das plantas de se adaptarem e sobreviverem às mudanças ambientais”. É o que explica Marcus Fernandes, coordenador do Laboratório de Ecologia de Manguezal (LAMA) da Universidade Federal do Pará (UFPA) e líder do projeto. Segundo ele, essa abordagem reduz perdas no reflorestamento e potencializa benefícios ambientais, como o aumento do estoque de carbono e a proteção da fauna local, incluindo o caranguejo-uçá.
Resultados e metas do reflorestamento
Desde 2021, o projeto já recuperou 18 hectares de manguezais degradados nos municípios paraenses de Tracuateua, Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, com o envolvimento ativo das comunidades locais que dependem dos recursos naturais para seu sustento. A meta é alcançar 40 hectares reflorestados e monitorar 100 hectares na região nos próximos anos, alinhando-se ao Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC).
John Gomes, gerente do projeto, destaca que o reflorestamento é “um gesto de sensibilização e conexão com a natureza”. Isso é essencial para despertar a consciência coletiva sobre a conservação dos manguezais, especialmente em um ano marcado pela realização da COP30 em Belém, que reforça a importância desses ecossistemas no combate às mudanças climáticas.
Manguezais amazônicos: sumidouros de carbono e proteção ambiental
Os manguezais da Amazônia são reconhecidos como grandes sumidouros de carbono, capazes de capturar de duas a três vezes mais carbono do que as florestas de terra firme, contribuindo significativamente para a mitigação dos gases do efeito estufa. Além disso, eles protegem as zonas costeiras da erosão, abrigam biodiversidade e sustentam comunidades tradicionais.
O Projeto Mangues da Amazônia é uma iniciativa conjunta do Instituto Peabiru, Instituto Sarambuí e do Laboratório de Ecologia de Manguezal (LAMA/UFPA). E conta com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental e apoio do Governo Federal. O trabalho envolve pesquisa técnico-científica, educação ambiental e atividades socioculturais nas Reservas Extrativistas Marinhas (RESEX) da região.
Ciência e conservação integradas para o futuro
O biólogo Adam Bessa, responsável pelo mapeamento genético, ressalta que o projeto está na vanguarda da ciência aplicada à conservação dos manguezais. Além de subsidiar a seleção de sementes, os dados genéticos orientam o planejamento de corredores ecológicos que conectam fragmentos de vegetação nativa, fortalecendo a estrutura biológica e a resiliência do ecossistema.
Com a continuidade das coletas e análises ao longo de 2025, o projeto reforça seu compromisso com a conservação e o uso sustentável dos manguezais amazônicos, promovendo um modelo que alia inovação científica, gestão ambiental eficiente e inclusão social das comunidades tradicionais.
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