A infraestrutura portuária brasileira novamente demonstrou suas limitações em julho de 2025, quando o país deixou de exportar 508.732 sacas de café. Isso é equivalente a 1.542 contêineres, resultando em uma perda de receita cambial de R$ 1,084 bilhão. Os dados foram divulgados pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) após levantamento realizado junto aos associados.

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O montante perdido em julho representa apenas a ponta do iceberg de um problema estrutural que afeta o agronegócio brasileiro. Considerando o preço médio Free on Board (FOB) de US$ 385,36 por saca de café verde e a cotação média do dólar de R$ 5,5279 no período, a perda equivale a US$ 196,05 milhões em receitas de exportação.

“Esse não ingresso de receitas com a exportação de café gera elevados prejuízos aos exportadores e representa o menor repasse das transações comerciais aos produtores brasileiros”, explica Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé. O executivo destaca que o Brasil transfere mais de 90% do preço FOB dos embarques diretamente aos cafeicultores, tornando os atrasos ainda mais prejudiciais para toda a cadeia produtiva.

Custos operacionais disparam com atrasos

Além da perda de receitas, os exportadores enfrentaram custos adicionais de R$ 4,14 milhões apenas em julho, decorrentes de armazenagem adicional, detentions, pré-stacking e antecipação de gates. Desde junho de 2024, quando o Cecafé iniciou o monitoramento sistemático, os prejuízos acumulados já ultrapassam R$ 83 milhões.

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A situação tende a se agravar no segundo semestre de 2025, período de safra de diversos produtos que dependem de contêineres para exportação. “No semestre passado, o período de entressafra de várias commodities ajudou a reduzir a pressão nos terminais, porém, como não houve melhorias, os desafios se intensificarão”, projeta Heron.

Santos lidera índices de atrasos

O Porto de Santos, responsável por 80,4% dos embarques de café entre janeiro e julho de 2025, registrou o maior índice de problemas: 65% dos navios sofreram atrasos ou alteração de escalas. Dos 182 porta-contêineres que operaram no terminal santista, 118 enfrentaram dificuldades, com o maior tempo de espera chegando a 35 dias.

No Rio de Janeiro, segundo maior exportador de café do país com 15,5% de participação, o índice de atrasos foi de 37%, afetando 26 das 70 embarcações destinadas ao produto. O maior intervalo entre deadlines chegou a 40 dias.

Boletim Detention Zero monitora desempenho

O Boletim Detention Zero (DTZ), desenvolvido pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé, revelou que 51% de todos os navios registraram problemas em julho – 167 de um total de 327 embarcações nos principais portos brasileiros.

O relatório também apontou deficiências nos prazos de gate aberto. Em Santos, apenas 4% dos procedimentos tiveram prazo superior a quatro dias, enquanto 59% operaram entre três e quatro dias e 38% com menos de dois dias. No Rio de Janeiro, 38% superaram quatro dias, 41% ficaram entre três e quatro dias, e 21% abaixo de dois dias.

Iniciativas para solução do problema

O Cecafé tem intensificado o diálogo com diferentes atores do comércio exterior para buscar soluções emergenciais. Em agosto, a entidade se reuniu com Bruno Pinheiro, gerente do Observatório do Instituto Brasileiro de Infraestrutura (IBI), para discutir o aprimoramento de indicadores logísticos específicos para monitoramento das exportações de café.

“Faremos um refinamento nas informações de nosso Boletim Detention Zero, com base em dados da ANTAQ e outras fontes públicas. O objetivo é estruturar um indicador que será disponibilizado pelo observatório do IBI para avaliar entraves nas exportações e buscar políticas públicas eficazes”, detalha Heron.

Tecon Santos 10: esperança de alívio

Uma perspectiva positiva surge com os avanços nas discussões sobre o leilão do Tecon Santos 10. Em painel promovido pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) manifestou-se contra restrições na participação de interessados, indicando que existem alternativas mais adequadas para evitar concentração de mercado.

Durante audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Econômico (CDE) da Câmara Federal, liderada pelo deputado Julio Lopes, ficou evidenciada a importância de acelerar o leilão sem restrições de participação, para que ocorra ainda em 2025.

Medidas urgentes necessárias

Para o diretor técnico do Cecafé, o setor exportador brasileiro necessita urgentemente de medidas que incluam agilização dos leilões de terminais, ampliação da capacidade de pátio e berços nos portos, melhoria dos acessos portuários e diversificação dos modais de transporte com investimentos em ferrovias e hidrovias.

“É fundamental que os portos evoluam na mesma proporção do crescimento das cargas, considerando o constante avanço do agronegócio nacional”, conclui Heron, alertando que sem ações imediatas, os prejuízos bilionários continuarão impactando negativamente toda a cadeia produtiva do café brasileiro.