Mercado registra quedas expressivas impulsionadas por projeções de oferta abundante e adiamento da lei europeia de desmatamento

O mercado global de café registrou quedas significativas nesta segunda-feira, com o café arábica recuando 2,31% e o robusta caindo 1,79%, em um movimento que reflete as expectativas de uma oferta mais abundante para os próximos meses.

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Os contratos futuros de café arábica para março fecharam com baixa de 8,65 centavos, enquanto o robusta para janeiro recuou 77 pontos. O arábica atingiu a mínima de duas semanas, e o robusta alcançou o menor patamar em dois meses e meio.

Brasil projeta safra 56% maior em 2025

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou para cima sua estimativa de produção brasileira de café em 2025, elevando a projeção em 2,4% para 56,54 milhões de sacas, ante os 55,20 milhões previstos anteriormente em setembro.

As perspectivas ficam ainda mais promissoras para o ciclo 2026/27. A consultoria StoneX prevê uma safra brasileira de 70,7 milhões de sacas, com 47,2 milhões apenas de arábica – representando um crescimento de 29% em relação ao ano anterior.

Vietnã aumenta exportações em 39%

O maior produtor mundial de café robusta também contribui para a pressão baixista sobre os preços. O Escritório Nacional de Estatísticas do Vietnã reportou que as exportações de novembro subiram 39% na comparação anual, alcançando 88 mil toneladas. No acumulado de janeiro a novembro, o crescimento foi de 14,8%, totalizando 1,398 milhão de toneladas.

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A produção vietnamita para 2025/26 deve crescer 6% em relação ao ano anterior, chegando a 1,76 milhão de toneladas (aproximadamente 29,4 milhões de sacas) – o maior volume em quatro anos. A Associação de Café e Cacau do Vietnã (Vicofa) estima que a safra pode ser até 10% superior, caso o clima permaneça favorável.

Adiamento da lei europeia mantém oferta elevada

O Parlamento Europeu aprovou no final de novembro o adiamento de um ano da regulamentação sobre desmatamento (EUDR), decisão que mantém altas as disponibilidades globais do produto. A medida permite que os países da União Europeia continuem importando commodities agrícolas, incluindo café, de regiões na África, Indonésia e América do Sul onde ainda ocorre desmatamento.

Apesar do cenário predominantemente baixista, alguns elementos oferecem sustentação aos preços do café. A precipitação abaixo da média em Minas Gerais, principal região produtora de arábica no Brasil, preocupa o mercado. Segundo a Somar Meteorologia, a área recebeu apenas 11 mm de chuva na semana encerrada em 5 de dezembro, apenas 17% da média histórica.

Os estoques certificados pela ICE também mostram redução. Os estoques de arábica caíram para uma mínima de 1 ano e 9 meses em novembro, recuperando-se parcialmente para 426.523 sacas. Já o robusta atingiu a menor marca em 11,5 meses.

Impacto das tarifas americanas

As tarifas impostas pelos Estados Unidos às importações de café brasileiro causaram impacto significativo no mercado. Entre agosto e outubro, as compras americanas de café brasileiro despencaram 52% em relação ao mesmo período do ano anterior, somando apenas 983.970 sacas. O Brasil responde por cerca de um terço do café não torrado consumido nos Estados Unidos.

O Serviço de Agricultura Estrangeira do USDA projeta que a produção mundial de café em 2025/26 aumentará 2,5%, atingindo o recorde de 178,68 milhões de sacas. A previsão indica queda de 1,7% na produção de arábica, mas crescimento de 7,9% no robusta.

Por outro lado, a Organização Internacional do Café informou que as exportações globais no atual ano de comercialização caíram 0,3% em relação ao período anterior, totalizando 138,658 milhões de sacas – um indicativo de oferta mais restrita que pode equilibrar o mercado no médio prazo.

Os estoques finais globais são estimados em alta de 4,9%, alcançando 22,819 milhões de sacas, ante 21,752 milhões em 2024/25.