Resumo da notícia
- Produtividade da cafeicultura nas Matas de Rondônia cresceu de 7,8 para 50,2 sacas/ha entre 2001 e 2023, enquanto a área plantada caiu de 245 mil para 60,6 mil hectares, mostrando maior eficiência e sustentabilidade.
- Mais de sete mil pequenos produtores cultivam café com média de 3,4 hectares, alcançando alta rentabilidade com preço de venda quase o dobro do custo de produção, o que atrai e mantém jovens no campo.
- A cafeicultura representa 63,6% do Valor Bruto da Produção agrícola regional, evidenciando seu papel central no desenvolvimento socioeconômico dos 15 municípios estudados.
- Inovação e mecanização aumentam produtividade, com uso de máquinas colhedoras, fertirrigação e cultivares clonais, enquanto a conectividade rural atinge 97,7%, impulsionando a modernização do setor.
A Embrapa divulgou estudo que mapeia o crescimento acelerado da cafeicultura nas Matas de Rondônia e apresenta números que desafiam o modelo tradicional de expansão agrícola. A produtividade nos cafezais da região saltou de 7,8 para 50,2 sacas por hectare entre 2001 e 2023, enquanto a área cultivada encolheu de 245 mil para apenas 60,6 mil hectares no mesmo período.

O levantamento “Perfil socioeconômico e produtivo dos cafeicultores da região das Matas de Rondônia” abrangeu 15 municípios que respondem por 75% da produção estadual de café robusta. Esses municípios obtiveram, em 2021, o registro de Indicação Geográfica do tipo denominação de origem para o grão produzido na região.
Pequenos produtores lideram crescimento com alta rentabilidade
Mais de sete mil produtores cultivam café em propriedades com média de 28,6 hectares, onde os cafezais ocupam cerca de 3,4 hectares. A rentabilidade do negócio surpreende: cada saca de 60kg custa R$ 618 para produzir e os produtores vendem por aproximadamente R$ 1.300.
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“Uma margem que tem ajudado a melhorar a vida de muitos produtores”, afirma Calixto Rosa Neto, analista da Embrapa Rondônia e autor do estudo. O impacto financeiro positivo reflete-se na redução da idade média dos cafeicultores, que caiu de 53 para 47 anos em 15 anos, demonstrando que jovens permanecem no campo.
A pesquisa utilizou questionários aplicados com apoio do Sebrae-RO, além de dados do IBGE, Conab e informações coletadas por satélite. O trabalho integra o projeto CarbCafé, coordenado pela Embrapa Territorial (SP).
Café representa 63% do PIB agrícola regional
O Valor Bruto da Produção (VBP) do café representa, em média, 63,6% do VBP agrícola total nos 15 municípios das Matas de Rondônia. Os números evidenciam a importância da cafeicultura no desenvolvimento socioeconômico local.

“Um ponto positivo encontrado foi o tempo de espera para comercializar a safra. A grande maioria espera por melhores preços. Isso reflete uma certa maturidade econômica dos cafeicultores”, explica o pesquisador Enrique Alves, coautor do documento.
Mecanização e inovação transformam colheita
Os produtores já utilizam mais de 200 máquinas colhedoras nos cafezais. A demanda crescente fez surgir empresas de aluguel de colhedoras de café semi-mecanizadas, serviço inexistente na região há poucos anos.
“Esse é um dos sinais de que a cadeia produtiva está crescendo e se consolidando”, aponta Rosa Neto. Além da mecanização, os cafeicultores adotam fertirrigação, manejo específico de solos e plantas, adubação correta e podas nos períodos recomendados.
A revolução tecnológica começou há mais de dez anos com o plantio de cafeeiros clonais desenvolvidos especialmente para a região, híbridos de robusta e conilon conhecidos como Robustas Amazônicos.
Internet chega a 97,7% das propriedades rurais
O salto na conectividade impressiona: em 2017, o Censo Agropecuário do IBGE registrou apenas 9,2% de propriedades conectadas nos 15 municípios. Sete anos depois, 97,7% dos produtores entrevistados têm acesso à internet.

“A falta de conectividade afeta a administração da lavoura e é um dos motivos que provoca a evasão de jovens do campo. Por isso, esse alto índice de acesso à internet é uma excelente notícia”, revela Rosa Neto. Os produtores usam a tecnologia principalmente para comprar insumos, comunicação e comercialização da produção.
Falta de mão de obra temporária preocupa setor
A escassez de trabalhadores temporários representa um dos principais gargalos. Os cafezais demandam grande número de empregados durante os três meses de colheita, período em que cada vez menos pessoas aceitam trabalhar, independentemente da remuneração oferecida.
“A mecanização pode ajudar a resolver parte do problema, ela substitui até cerca de 50% da mão-de-obra, mas ainda haverá um efetivo considerável a ser suprido”, prevê Rosa Neto. Desde 2011, a cafeicultura regional perdeu aproximadamente 20 mil trabalhadores.
Setor precisa desenvolver colhedoras específicas para Robustas
Os Robustas Amazônicos necessitam de máquinas colhedoras próprias. Enquanto plantas arábicas possuem um único caule, os robustas têm vários caules, impedindo que as duas espécies compartilhem o mesmo equipamento de colheita.
Gestão financeira ainda é informal
Dos produtores entrevistados, 61% declararam não fazer registro financeiro algum. Apenas 6,6% usam planilha eletrônica para organizar as finanças e 35% anotam receitas e despesas em cadernos.
O custo médio de produção informado pelos produtores foi de R$ 17,8 mil por hectare. No entanto, a maioria não inclui nesse valor a mão-de-obra familiar, depreciação de equipamentos e custo da terra.
“É comum contratar empregados temporários com almoço incluso. No entanto, o custo dos alimentos e a hora da cozinheira não entram na conta”, exemplifica Rosa Neto.
Mudanças climáticas ampliam período de irrigação
As alterações climáticas já obrigam produtores a adaptar práticas agrícolas. Os períodos de seca aumentaram significativamente, estendendo a necessidade de irrigação de três para cinco meses.

“Isso significa aumento no custo de produção, especialmente em energia elétrica, e, o mais preocupante, necessidade de maior suprimento de água”, alerta Rosa Neto. O analista cita produtores do noroeste do Mato Grosso que não conseguiram irrigar porque os rios secaram.
Cafezais sequestram 2,3 vezes mais carbono do que emitem
Estudo publicado pela Embrapa em 2024 comprovou que os cafezais das Matas de Rondônia sequestram 2,3 vezes mais carbono do que emitem. A cafeicultura regional contribui significativamente para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
Entre 2020 e 2023, sete dos 15 municípios da região das Matas de Rondônia alcançaram desmatamento zero. Na região inteira, a pesquisa encontrou traços de retirada de áreas florestais em menos de 1% da área total ocupada pela cafeicultura.
Mais da metade dos territórios dos 15 municípios somados mantém cobertura florestal, totalizando 2,2 milhões de hectares com vegetação nativa. As terras indígenas preservam 56% dessa floresta, ou 1,2 milhão de hectares.
“Esse café está se consolidando como produto de alta qualidade, que promove o desenvolvimento social em pequenas propriedades e comunidades tradicionais e que ainda ajuda a manter a floresta Amazônica”, declara Enrique Alves.
O pesquisador destaca que o café, apesar de estar entre as três principais culturas agronômicas do estado, ocupa apenas 0,8% da área das Matas de Rondônia, região que responde por 75% da produção estadual.