Enquanto o tarifaço de 50% assinado pelo ex-presidente Donald Trump assombra exportadores de várias regiões do país, o Centro-Oeste respira aliviado. A região, fortemente ancorada no agronegócio e na exportação de commodities como carne bovina, aves e minérios metálicos, apresenta a menor vulnerabilidade econômica entre todas as regiões brasileiras diante da nova política tarifária dos Estados Unidos.
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De acordo com estudo do pesquisador Flávio Ataliba, do FGV IBRE, o impacto sobre o Centro-Oeste tende a ser baixo, principalmente porque os principais mercados da região não estão no hemisfério norte, mas sim no Oriente e na Europa. “A região possui uma baixa exposição relativa aos EUA, o que a coloca em posição privilegiada neste cenário”, afirma Ataliba.
Segundo os dados, apenas 3,7% das exportações do Centro-Oeste têm como destino os Estados Unidos, o que representa US$ 1,5 bilhão. Em comparação, o Sudeste, por exemplo, responde por US$ 28,6 bilhões em vendas para o mercado americano. Ou seja, 71% das exportações brasileiras para lá saem de estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
No caso do Centro-Oeste, o que embarca rumo aos EUA são produtos de base: carnes bovinas e aves, ferro-gusa, aço e minérios metálicos. Embora relevantes, esses itens não se encaixam nas faixas mais altas de valor agregado e, por isso, tendem a sofrer menos pressão tarifária, especialmente quando comparados aos manufaturados e calçados do Nordeste, que são intensivos em mão de obra e muito mais sensíveis a choques externos.

“O tarifaço impacta mais onde há produtos de baixa escala e forte concentração de pequenos produtores, como o mel do Piauí ou as frutas de Pernambuco. No Centro-Oeste, temos grandes grupos exportadores e cadeias produtivas integradas, o que confere mais resistência e capacidade de resposta”, explica o pesquisador.
Alívio no campo
O estudo ainda alerta para os riscos socioeconômicos do tarifaço. As regiões mais afetadas são, principalmente Norte e Nordeste, onde as cadeias produtivas são mais frágeis e a estrutura empresarial, pulverizada. Já o Centro-Oeste, epicentro do agro nacional, mostra musculatura. Os grandes frigoríficos, cooperativas robustas e alto nível de mecanização da produção blindam a região contra perdas severas.
Mas isso não significa cruzar os braços. Ataliba defende que o país precisa aproveitar o momento para qualificar e diversificar suas cadeias produtivas, com foco em três frentes: cooperação federativa para políticas regionais, reforço à inteligência comercial subnacional e investimento pesado em inovação, infraestrutura e certificações internacionais.