Dispositivo criado por pesquisador de Itajaí promete reduzir perdas na rizicultura catarinense sem uso de agrotóxicos

Os produtores catarinenses de arroz irrigado ganham um novo aliado na luta contra uma das principais pragas da cultura. A Epagri desenvolveu a armadilha Schneckel, um dispositivo inovador que captura caramujos de forma eficiente durante o período de plantio.

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O entomologista Eduardo Hickel, da Estação Experimental de Itajaí (EEI), finalizou o desenvolvimento da armadilha em 2024. O pesquisador investiu três anos em testes para criar uma solução que superasse as limitações dos métodos anteriores.

“As armadilhas submersas existentes não funcionavam adequadamente”, explica Hickel. “Os caramujos precisam subir à superfície para respirar e conseguiam escapar facilmente.”

O novo dispositivo utiliza um cano de PVC coberto com tela sombrite. A tecnologia permite a entrada de água durante a instalação e mantém os moluscos capturados através de funis internos que impedem a fuga.

Três espécies ameaçam produção de arroz

A armadilha combate três espécies identificadas pelo pesquisador: caramujo-grande, caramujo-chato e caramujo-pequeno. Esses moluscos chegam às lavouras pelas valas após a inundação das quadras e podem causar perdas significativas na produção.

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Foto: Renata Rosa / Epagri

O caramujo-grande representa a maior ameaça. “Este animal vive até três anos e é bastante voraz”, destaca Eduardo. Já o caramujo achatado tem ciclo de vida de um ano, mas também causa danos consideráveis.

A armadilha requer instalação em profundidade mínima de 30mm de lâmina d’água. O produtor deve colocar estacas ao redor do cano para proteção e usar 1g de ração como isca alimentar.

Os extensionistas da Epagri já receberam treinamento sobre a tecnologia em julho, durante as reuniões do Projeto Arroz. O dispositivo está em fase de difusão entre os produtores.

Manejo integrado complementa tecnologia

A armadilha funciona como ferramenta de monitoramento dentro de um sistema de manejo integrado. O controle eficaz dos caramujos exige múltiplas estratégias, já que agrotóxicos não eliminam essas pragas.

Métodos complementares incluem:

  • Preparo antecipado do solo seco
  • Limpeza de valas e canais
  • Instalação de telas na entrada de água
  • Manutenção adequada da lâmina d’água
  • Drenagem eventual de áreas infestadas

O manejo biológico representa outra frente importante. Produtores podem introduzir predadores naturais como o gavião-caramujeiro e marrecos-de-pequim na proporção de 30 a 50 animais por hectare.

Folhas de mamoeiro, mandioca ou bananeira também servem para coletar os caramujos manualmente. A alternância no sistema de cultivo e a semeadura em solo seco completam as estratégias de controle.

Pesquisa continua para otimizar resultados

Eduardo Hickel mantém estudos para aprimorar a tecnologia. Desde setembro, o pesquisador monitora o comportamento dos caramujos durante toda a safra em área experimental de 15 hectares.

O cientista instalou sete armadilhas na região – quatro nas valas e três em lavouras. A coleta ocorre três vezes por semana até março, quando termina a colheita.

“Estamos testando diferentes tipos e quantidades de ração em laboratório”, revela o pesquisador. “O objetivo é encontrar iscas que atraiam os caramujos sem que eles ataquem as sementes.”

Monitoramento focado no período crítico

Para produtores comerciais, a recomendação é monitorar apenas até novembro. Nesse período, as plantas jovens ficam mais vulneráveis ao ataque das pragas.

“No plantio de arroz irrigado, não existe outro alimento disponível além da própria planta”, alerta Eduardo. “Por isso, o manejo integrado cultural, mecânico e biológico é fundamental para um controle eficiente.”

A tecnologia promete reduzir significativamente os problemas causados por caramujos na rizicultura catarinense. Com a armadilha Schneckel, produtores têm uma ferramenta precisa para identificar infestações e implementar medidas de controle no momento adequado.