Cientistas baianos definem parâmetros para produção nacional. Mercado global pode atingir US$ 1,6 bilhão até 2028
Foto: Fernando Vivas / GOVBA

O hidromel é uma bebida alcoólica milenar obtida através da fermentação do mel diluído em água. Considerada mais antiga que o vinho e a cerveja, esta bebida conquistou civilizações ao longo da história, desde os vikings escandinavos até os gregos antigos, que a chamavam de “néctar dos deuses”.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

A produção do hidromel envolve um processo de fermentação natural, onde leveduras convertem os açúcares do mel em álcool, resultando em uma bebida que pode variar de 8% a 18% de teor alcoólico.

A história do hidromel remonta a mais de 4.000 anos. Registros arqueológicos indicam que povos da antiga Mesopotâmia, Egito e China já produziam e consumiam esta bebida. Na cultura nórdica, o hidromel ocupava lugar de destaque nos banquetes vikings, sendo considerado a bebida dos guerreiros e símbolo de celebração. Na mitologia grega, acreditava-se que o hidromel conferia imortalidade e sabedoria, razão pela qual era associado aos deuses do Olimpo.

Durante a Idade Média, o hidromel manteve sua popularidade na Europa, especialmente em regiões onde a produção de vinho era limitada. Mosteiros medieval produziam a bebida tanto para consumo quanto para fins medicinais, aproveitando as propriedades benéficas do mel.

Características e sabor

O sabor do hidromel varia consideravelmente de acordo com o tipo de mel utilizado, o tempo de fermentação e os ingredientes adicionais. Em sua versão tradicional, a bebida apresenta notas doces e complexas, com toques florais e frutados que refletem a origem botânica do mel. A textura pode ser seca, semi-seca ou doce, dependendo da quantidade de açúcar residual após a fermentação.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Compostos voláteis do mel definem o perfil aromático do hidromel e dão à bebida fragrâncias que remetem a flores, frutas, especiarias ou notas herbáceas. A acidez equilibrada é fundamental para a qualidade da bebida, influenciando tanto o processo de fermentação quanto o sabor final.

Pesquisa baiana avança na definição de padrões de qualidade para o hidromel brasileiro

Um estudo conduzido pelo Centro Tecnológico Agropecuário da Bahia (Cetab), órgão vinculado à Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri), acaba de ser publicado nos Anais da Academia Brasileira de Ciências e investiga as propriedades físico-químicas e aromáticas do hidromel produzido em diferentes regiões brasileiras.

Foto: Cetab Seagri

A pesquisa nacional analisou amostras da bebida milenar obtida pela fermentação do mel e busca estabelecer parâmetros de qualidade que possam impulsionar tanto a produção quanto o comércio do hidromel no Brasil.

Análise aprofundada de amostras regionais

Os pesquisadores Paulo Mesquita e Manuela Barreto coordenaram o estudo que examinou hidroméis produzidos na Bahia – especificamente nas regiões da Chapada Diamantina e do Recôncavo – e em São Paulo. A equipe considerou diferentes tempos de produção e analisou características cruciais como nível de acidez (pH), resíduos minerais e compostos responsáveis pelo aroma da bebida.

“Os resultados indicaram que fatores como o tempo de conservação e o tipo de armazenamento interferem diretamente na acidez e na presença de compostos voláteis do hidromel. A partir das características encontradas, foram estabelecidos parâmetros para que o hidromel possa ser melhor produzido e utilizado”, explica Mesquita.

PH: fator determinante para a qualidade

O controle da acidez emerge como uma das medidas essenciais para garantir a qualidade do produto final. A pesquisadora Manuela Barreto destaca que o monitoramento do pH exige atenção especial dos produtores. “Uma bebida mais ácida afeta o processo de fermentação, além de prejudicar o sabor”, ressalta a especialista.

Os cientistas estabeleceram parâmetros que permitem aos produtores monitorar e controlar adequadamente o pH durante todo o processo de fabricação, garantindo um produto final de maior qualidade e sabor mais equilibrado.

Mercado promissor e pouco explorado

Apesar de ser uma bebida mais antiga que o vinho e a cerveja, o hidromel ainda ocupa pouco espaço no mercado brasileiro. A maior parte da produção nacional ocorre de forma artesanal, o que evidencia um potencial de crescimento significativo para o setor.

Os números globais reforçam o otimismo. Segundo a empresa Fortune Business Insights, o mercado mundial de hidromel deve se expandir a uma taxa de crescimento anual de 18,71%, saltando de US$ 432,4 milhões em 2020 para US$ 1,6 bilhão em 2028. Este cenário apresenta oportunidades concretas para produtores brasileiros que investirem na bebida.

Benefícios para a saúde ampliam o potencial

A indústria cervejeira artesanal já utiliza o hidromel como ingrediente especial em suas criações. Porém, estudos científicos apontam que os benefícios da bebida vão além do sabor diferenciado.

Pesquisas demonstram que o consumo moderado de hidromel pode ajudar a prevenir diversos problemas de saúde, incluindo diabetes, câncer, inflamação, infecções respiratórias e distúrbios gastrointestinais. Estes benefícios derivam da presença de ácidos orgânicos, compostos fenólicos e peptídeos presentes no mel, que se mantêm na bebida fermentada.

O artigo científico completo está disponível para consulta no site da SciELO (Scientific Electronic Library Online), plataforma que reúne publicações científicas de prestígio na América Latina.