Minas Gerais registra uma revolução silenciosa em seus campos. A produção de vinhos finos de qualidade deixou de ser sonho e virou realidade consolidada. O estado conta hoje com aproximadamente 130 vinícolas, número que mais que dobrou desde 2020, quando havia cerca de 50 estabelecimentos.

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A transformação começou nas últimas duas décadas. A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) adaptou e validou a tecnologia de dupla poda da videira. Essa inovação permitiu a produção dos famosos “vinhos de inverno”, que trouxeram notoriedade para o setor.

Embora relatos históricos indiquem que a atividade vitícola mineira começou no século XIX, foram os vinhos de inverno que colocaram o estado no mapa nacional da bebida. O crescimento acompanha o sucesso em premiações nacionais e internacionais, além de impulsionar os setores de gastronomia e turismo.

Restaurantes abraçam tradição mineira com cartas de vinhos locais

A chef e historiadora Juliana Duarte incorporou os vinhos mineiros como carro-chefe do restaurante Cozinha Santo Antônio, em Belo Horizonte. “Somos cheios de mineirices em nossos ingredientes, na forma de servir e receber as pessoas”, explica ela.

Foto: Divulgação Epamig/Seapa

A profissional conheceu os vinhos de inverno quando trabalhava como publicitária. Hoje, ela orienta a equipe para sempre oferecer essas opções aos clientes. “As pessoas têm muita curiosidade de conhecer e eu tenho muito orgulho de servir”, destaca.

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O menu especial “Mineirices” harmoniza pratos típicos com vinhos produzidos no estado. O restaurante recebe muitos turistas e missões estrangeiras, momento que Juliana aproveira para apresentar a produção local.

Distribuidoras apostam na qualidade dos vinhos mineiros

A Rex Bibendi, distribuidora que atua há mais de 30 anos em Belo Horizonte, descobriu os vinhos mineiros há cerca de 15 anos. A proprietária Dulce Ribeiro buscava opções de vinhos nacionais quando um enólogo do Sul recomendou que ela acompanhasse a nova produção de Minas Gerais.

“A maioria são agricultores estruturados em outras áreas que apostaram nessa nova cadeia, confiando na pesquisa”, conta Dulce. Ela credita o sucesso ao investimento científico da Epamig.

A empresária enxerga os vinhos como tradução da identidade local. “O vinho mineiro não é uma coisa única, cada produtor faz um vinho próprio”, explica. Seu sonho é ver cartas de vinhos representando várias regiões de Minas Gerais.

Setor se organiza para conquistar reconhecimento oficial

O Sindicato da Indústria do Vinho de Minas Gerais (Sindvinho) trabalha junto ao poder público no projeto Selo de Origem Mineira – Uai Wine. A iniciativa prevê que estabelecimentos comerciais ofereçam no mínimo três vinhos mineiros, segundo a presidente Heloísa Bertoli.

Foto: Divulgação Epamig/Seapa

O vice-governador Mateus Simões destaca as ações governamentais para consolidar a cadeia produtiva. O trabalho inclui criação de rotas enoturísticas e apoio a eventos como o Uai Wine, realizado no Palácio da Liberdade.

“Nossos produtos ganham prêmios no mundo inteiro”, afirma José Procópio Stella, presidente da Associação dos Produtores de Uva e Vinho de Minas Gerais (Uva-MG). Ele reforça a necessidade de mostrar aos mineiros que o estado produz vinhos de alta qualidade em todas as regiões.

Enoturismo impulsiona pequenos produtores e economia local

José Procópio Stella, proprietário da centenária vinícola Stella Valentino em Andradas, aposta no turismo rural. Ele estabelece parcerias com outras cadeias produtivas locais, como café, queijos, doces e azeites.

O produtor revela que quase 90% das vinícolas mineiras são pequenas e focam no enoturismo. “O vinho é um dos produtos que mais atrai turistas no mundo”, destaca. Ele projeta o potencial turístico aliado ao contexto histórico, culinária, receptividade e artesanato mineiros.

A combinação desses elementos posiciona Minas Gerais como destino enoturístico em ascensão. O estado consolida nova identidade cultural, somando os vinhos às tradições já reconhecidas nacionalmente.